1 Parte-DA MODÉSTIA
CAPÍTULO XII (O original traz: Capítulo VII)
Das mãos, dos dedos e das unhas
É cortês ter e manter sempre as mãos limpas e é vergonhoso aparecer com mãos pretas e sujas; tais coisas somente são suportáveis da parte de operários manuais e agricultores. Para ter as mãos limpas asseadas deve-se
limpá-las cada manhã, lavá-las
exatamente antes das refeições e todas as vezes que, ao fazer algum trabalho, acontecer que fiquem sujas.
Não é decente, depois de sujar ou lavar as mãos, enxugá-las na própria roupa ou na dos outros, ou numa parede ou em qualquer lugar que possa sujar alguém.
Esfregar as mãos em presença das pessoas a quem se deve respeito, quer por causa do frio, quer por um sentimento de alegria, ou por qualquer outra razão é tomar-se muita liberdade; isto nem se deve fazer entre os amigos mais familiares.
Assenta muito mal às pessoas do mundo esconder as mãos debaixo da roupa ou tê-las cruzadas ao falar a alguém; esta atitude é mais própria dos religiosos do que dos seculares. Até não assenta bem a
quem quer que seja enfiar as duas mãos nos dois bolsos e colocá-las e mantê-las nas costas. Esta é uma grosseria própria de um carregador de fardos.
Não é cortês bater com as mãos ao brincar com alguém; isto denota coisa de aluno e só pode ser feito por alguma criança estouvada e de mau comportamento.
Ao falar, na conversação, não se deve bater com as mãos, nem fazer gesto algum e evitar
cuidadosamente tocar as mãos da pessoa com quem se
fala; seria muito pouco honesto e respeitoso para com
ela. Muito menos cortês ainda seria puxar os botões, as
luvas, a gravata, ou o manto de alguém ou até tocar nisto com as mãos.
Colocar sua mão na mão de uma pessoa por civilidade é dar a ela um sinal de amizade e de união particular. Por isso é que isto se deve fazer ordinariamente só com pessoas que são de mesma
posição, pois a amizade só pode existir entre pessoas que não tenham nada uma acima da outra.
Nunca é permitido a uma pessoa que deve respeito a outra dar-lhe a mão para mostrar-lhe estima ou afeição. Seria faltar de respeito que se deveria ter para com essa pessoa e usar com ela uma familiaridade demasiado indiscreta. Contudo, se uma pessoa de
qualidade ou que é superior colocar sua mão na de outra que lhe é inferior, esta deve aceitar a honra, oferecer a mão imediatamente e receber esse favor como testemunho singular de bondade e de
benevolência.
Quando se dá mão a alguém, como sinal de amizade, sempre se deve apresentar a mão descoberta e é contra os bons modos manter então a luva na mão; mas quando alguém a apresenta para a amparar num passo em falso, ou então para conduzir uma mulher,
deve-se por cortesia usar as luvas.
Apontar com o dedo um lugar ou uma pessoa da qual se fala ou qualquer outra que esteja longe é não
saber o que é cortesia. Uma liberdade que uma pessoa honesta não se deve permitir é puxar os dedos para os alongar ou os fazer estalar. Também é uma coisa ridícula tamborilar com os dedos; são coisas de sonhador e é
vergonhoso cuspir nos dedos.
Uma pessoa honesta nunca deve golpear com os dedos e nem com a mão e esses golpes com os dedos dobrados, os piparotes, devem ser-lhe completamente desconhecidos.
É muito conveniente não deixar crescer as unhas e não os ter repletos de sujeira. Por isso é bom tomar como prática cortá-las todos os oito dias, e limpá-las todos os dias tirando a sujeira que ali se acumula.
É descortês cortar as unhas na presença de outras pessoas, especialmente quando se está com pessoas a quem se deve respeito. Não se deve cortá-las com uma faca ou roê-las com os dentes; para apará-las deve-se usar uma tesoura e fazê-lo em particular ou
estando com pessoas com quem se vive ordinariamente, deve afastar-se delas ao cortá-las.
Arranhar uma parede com as unhas, mesmo para tirar uma espécie de areia para secar uma escrita, arranhar os livros ou qualquer outra coisa que se tem em mãos, traçar riscos com a unha tanto sobre o cartão ou o papel; enfiar a unha numa fruta ou em qualquer
outra coisa, arranhar-se a si mesmo no corpo ou na cabeça, tudo isso são faltas de cortesia nas quais não se pode cair sem baixeza de espírito e somente se deve pensar nisso
para criar aversão.