1 Parte-DA MODÉSTIA
CAPÍTULO XIII
Das partes do Corpo que se devem esconder e
das necessidades naturais
A cortesia e o pudor exigem que se cubram todas as partes do corpo, exceto a cabeça e as mãos. É indecente ter o peito descoberto, os braços nus, as pernas sem meias e os pés sem sapatos. Até mesmo é contra a Lei de Deus descobrir algumas partes do corpo que o pudor bem como a natureza obrigam a
manter escondidas.
Deve-se evitar com cuidado e quanto possível, colocar a mão descoberta sobre todas as partes do corpo que ordinariamente não estão cobertas e, caso houver necessidade de tocá-las, que seja com
precaução.
Já que devemos considerar nossos corpos como templos vivos em que Deus quer ser adorado em espírito e em verdade, e tabernáculos que Jesus Cristo se escolheu para sua morada, devemos também ter-lhes muito respeito, em vista de tão belas qualidades que possuem. E esta consideração é que nos deve levar
especialmente a não tocá-los e mesmo a não os olhar sem necessidade indispensável.
É bom acostumar-se a sofrer vários pequenos incômodos, sem
se voltar, esfregar, nem arranhar, sem se remexer e sem manter outra atitude que seja indecente, pois todas essas ações e posturas
inconvenientes são completamente contrárias ao pudor e à modéstia.
Ainda mais contrário à cortesia e a honestidade é tocar ou ver outra pessoa, especialmente se é do sexo diferente, o que Deus proíbe ver em si mesmo. Daí resulta que é muito indecente olhar o seio de uma mulher, e mais ainda tocá-lo, e nem sequer é permitido
olhar fixamente no rosto dela.
As mulheres devem também tomar muito cuidado de cobrir decentemente todo o corpo e cobrir o rosto com um véu, de acordo com o conselho de São Paulo, visto que não é permitido deixar ver em si o que não é livre nem decente que os outros o olhem.
Ao estar deitado, deve-se procurar manter uma postura decente e tão modesta que quem se aproximar não possa ver a forma do corpo; também se deve ter cuidado de não se descobrir de tal maneira que se deixe ver nenhuma parte do corpo nu e que não esteja muito decentemente coberta.
Quando se tem necessidade de urinar e fazer algumas outras necessidades naturais que possam ser vistas, sempre se deve ir a um lugar retirado. A boa educação, mesmo das crianças, exige só as fazer em locais em que não possam ser vistas.
Muito incivil é soltar em sociedade gazes do corpo, tanto com muito ruído como com pouco ou até sem nenhum. É vergonhoso e baixo fazê-lo de maneira que possa ser
ouvido pelos outros.
Nunca é cortês falar das partes do corpo que sempre devem estar cobertas, nem de certas necessidades do corpo a que a natureza sujeitou os homens, nem sequer nomeá-las. E se alguma vez não
se pode dispensar disto com um doente ou de uma pessoa indisposta, deve-se fazê-lo de maneira tão educada que os termos usados não possam chocar em nada a boa cortesia.