SEGUNDA PARTE
Da cortesia nas ações comuns e ordinárias
CAPÍTULO III
Do Vestuário
ARTIGO II
Da modéstia e da limpeza do vestuário
O meio de limitar a moda no tocante ao vestuário e impedir os que a seguem de se excederem é submetê-la e reduzi-la à modéstia que deve ser a regra do comportamento de um cristão em tudo o que se
refere ao exterior. Para ter roupa modesta é preciso que nela não haja qualquer aparência de luxo, nem vaidade.
Também é sinal de baixeza de espírito apegar-se a certas roupas, procurar as mais vistosas e suntuosas; e quem o faz se torna desprezível da parte de todas as pessoas de bom senso. Mas o que muito mais importante é que renunciam publicamente às
promessas contraídas no Batismo e ao espírito do Cristianismo. Pelo contrário, quem despreza esta espécie de vaidades manifesta que tem um coração grande e um espírito muito elevado. Com efeito tais pessoas manifestam que estão mais interessadas em
adornar sua alma com virtudes, do que satisfazer seu corpo; e manifestam pela modéstia de seu vestuário, a sabedoria e a simplicidade de sua alma.
Como as mulheres são naturalmente menos capazes de grandes coisas do que os homens, elas também estão mais sujeitas a procurar a vaidade e o luxo no
vestuário do que os homens. Por isso é que São Paulo, depois de um
esforço para exortar os homens a evitarem os vícios mais grosseiros em que eles caem mais facilmente do que as mulheres, recomenda no fim às mulheres que se vistam modestamente, não se enfeitem de ouro, nem de pérolas, nem se roupa suntuosa; mas se vistam como devem fazê-lo mulheres que mostram por suas boas obras, que professam a
piedade.
Depois desta regra do grande Apóstolo, não há mais nada a prescrever aos cristãos, a não ser que a sigam e imitem nisso os cristãos dos primeiros séculos, que edificavam toda a gente pela modéstia e a simplicidade de seu vestuário.
Para os homens é vergonhoso o que se encontra algumas vezes, ser efeminados a ponto de se vangloriarem de sua roupa de muito valor e quererem atrair a consideração por isso. Eles deveriam elevar seu
espírito mais alto ao pensar que a roupa é sinal vergonhoso do pecado; e ao se considerarem como nascidos para o céu, deveriam ter cuidado para tornarem sua alma bela e agradável a Deus.
Este é o conselho que São Pedro dá às mulheres, dizendo-lhes até que desprezem o que aparece por fora e não se enfeitem em nada com roupa vistosa, mas enfeitem por dentro o coração da pessoa,
por meio da pureza incorruptível de um espírito tranqüilo e
modesto, riquíssimo diante de Deus.
Deve-se ter um cuidado especial de manter sempre a roupa muito limpa. A modéstia e a cortesia não podem suportar nada de sujo e negligente. Assim, os que deixam sua roupa, seu chapéu ou os sapatos cobertos de poeira pecam contra a modéstia, bem como
os que saem e aparecem por fora com roupa manchada.
Isto sempre é sinal de grande negligência.
Também assenta muito mal deixar que a gordura ou manchas apareçam na roupa e tê-la suja e esfarrapada; isto é sinal de uma pessoa de pouca educação e conduta má.
A roupa branca interna não deve ser menos limpa do que a externa. Para isso deve-se tomar cuidado de não deixar cair tinta na camisa quando se escreve e não a sujar por negligência, quer ao comer,
quer ao fazer qualquer outra coisa. Também se deve trocar muitas vezes e pelo menos todos os oito dias e fazer com que
sempre seja branca.