Do Chapéu e da maneira de o usar

AS REGRAS DE CORTESIA


SEGUNDA PARTE
Da cortesia nas ações comuns e ordinárias

CAPÍTULO III
Do Vestuário

ARTIGO III
Do Chapéu e da maneira de o usar
O chapéu serve de ornamento da cabeça do homem e para o proteger contra uma série de coisas desagradáveis. Trazê-lo sobre as orelhas, colocá-lo muito em frente da cabeça como para esconder o rosto, mantê-lo por trás da cabeça de maneira que caia sobre os ombros, são todas maneiras ridículas e inconvenientes; mas dobrar-lhe as abas na frente para cima tão alto como o cilindro é um gesto de altivez insuportável. Quando se saúda alguém, deve-se tomar o chapéu com a mão direita, tirá-lo inteiramente da
cabeça e de maneira que seja honesta, estendendo o braço até em baixo e segurando o chapéu pela aba e o lado que deve cobrir a cabeça para fora. Se alguém tira o chapéu nas ruas, quer ao passar diante de alguma pessoa para a saudar, deve fazê-lo um pouco antes de estar perto dela, e não se cobrir senão quando esteja afastado dessa pessoa. Ao se saudar alguém enquanto se dirige a ela, deve-se tirar o chapéu cinco ou seis passos antes de se aproximar; e quando se entra num lugar em que se encontra uma pessoa de qualidade, ou
à qual se deve muito respeito, é preciso tirar sempre o chapéu antes de entrar naquele lugar. Se os que estão naquele lugar estão de pé e descobertos, tem-se a obrigação de se manter na mesma atitude. Depois de ter tirado o chapéu com muita educação, deve-se voltar
a parte interna contra si sobre o estômago no lado esquerdo. Ao estar sentado, deve-se ter o chapéu baixado, é de cortesia mantê-lo sobre os joelhos com a parte interna voltada para si e a mão esquerda em cima.ou embaixo.
É uma grande falta de cortesia ao falar com alguém rodar o chapéu, arranhar sobre ele com os dedos, tamborilar sobre ele, tocar no cordão do chapéu, olhar para dentro dele ou ao redor dele, colocá-lo diante do rosto ou sobre a boca, de maneira que não se
possa ser compreendido ao falar. É alguma coisa muito mais vil morder a aba quando se segura o chapéu em frente da boca.
As ocasiões em que a pessoa se deve descobrire tirar o chapéu são: 1º quando ela se encontra num lugar em que há pessoas de importância; 
2º quando saúda alguém; 
3º quando dá ou recebe alguma coisa; 
ao sentar à mesa; 
5º ao ouvir pronunciar o santo Nome de Jesus e de Maria
exceto quando estiver à mesa, pois então somente deve inclinar a cabeça; 
6º quando estiver diante das pessoas a quem deve muito respeito,
como quando estiver com eclesiásticos, magistrados eoutras pessoas importantes. 
Diante dessas pessoas é preciso descobrir-se, mas não é necessário permanecer descoberto, a menos que se esteja numa situação muito
inferior. Também é preciso descobrir-se diante de todas as pessoas que são superiores e não voltar a se cobrir antes de receber a ordem de fazê-lo; mas depois de se ter coberto não se deve tirar o chapéu cada vez que se diz ou se faz alguma coisa, isto seria importuno
e incômodo para as pessoas a quem se fala, bem como para a pessoa que fala.
Contra a boa educação é tirar o chapéu quando alguém está à mesa, exceto quando aparecesse alguma pessoa que merece muita consideração.
Contudo, se alguma pessoa de alta qualidade bebe à saúde de alguém ou lhe apresenta alguma coisa, aquele a quem ela se dirige deve se descobrir. Se à mesa estiver alguma pessoa de alta qualidade que esteja sem chapéu para estar à vontade, não se deve
imitá-la; isto seria demasiado familiar, sempre se deve permanecer coberto.
Quando alguém nos fala descoberto, ordinariamente sempre se deve dizer-lhe que se cubra caso formos superior a ele. Pode-se então dizer: Cubrase, meu Senhor. Esta maneira de falar contudo somente é permitida com pessoas que estão muito abaixo da
nossa condição.
Pedir que uma pessoa acima de nossa condição se cubra é uma grande falta de cortesia. Isto se pode fazer bem com pessoas familiares e que são de igual condição que a nossa; mas que não seja em forma de ordem nem feito com palavras de quem manda. Deve-se fazê-lo quer por sinal e se cobrir também ao mesmo
tempo ou por um algum circunlóquio, dizendo, por exemplo: o senhor poderia ficar doente com a cabeça descoberta, ou usar palavras familiares, se se está com algum amigo, como estas: 
Você não vai querer que ponhamos o chapéu?