Da maneira de entrar na casa de uma pessoa que se visita

AS REGRAS DE CORTESIA


SEGUNDA PARTE
Da cortesia nas ações comuns e ordinárias

CAPÍTULO VI
Das visitas 

ARTIGO II
Da maneira de entrar na casa de uma pessoa que se visita
Quando se vai visitar alguém e a porta estiver fechada, é uma grosseria enorme bater com violência e dar mais do que uma batida. Deve-se bater gentilmente e aguardar pacientemente que se abra a porta.
Bater à porta de um quarto, seria não conhecer seu mundo; deve-se arranhar. Se a pessoa não aparece, é preciso afastar-se da porta, para que não se seja apanhado como quem está espiando, o que seria muito chocante e muito desagradável.
Quando se abre a porta e que a abre pergunta o nome, deve-se dizê-lo e nunca antepor o título de Senhor ao nome.
Se a pessoa que se vai visitar é de posição muito superior e não está em casa, não é cortês dizer o próprio nome e dizer apenas que se voltará uma outra vez.
Se o visitante é totalmente estranho à casa em que pretende ir, seria uma afronta entrar sem ser introduzido; deve-se aguardar que se diga que entre, mesmo se a porta estivesse aberta. Se não houver
alguém para introduzir e se razoavelmente se creia ter a liberdade de entrar, deve-se entrar sem ruído e não bater a porta. Quando se abre ou quando se fecha uma porta e quando se caminha é preciso tomar cuidado de o fazer bem suavemente e sem ruído.
Quando se abre uma porta é muito descortês deixá-la aberta; deve-se ter o cuidado de a fechar, se não houver ninguém para o fazer.
Ao ficar esperando num sala ou na antecâmara, não é cortês andar passeando, isto até é proibido na casa dos Príncipes, e o pior seria cantar ou assobiar.
A cortesia requer que nas salas e na antecâmara se esteja de cabeça descoberta ainda que ninguém estivesse presente; e quando se está na casa de uma pessoa eminente, deve-se ter cuidado de não usar o
chapéu e não se sentar de costas para o retrato ou para a pessoa que se deve respeitar.
Seria uma falta de cortesia entrar de cabeça coberta em lugares em que estão pessoas importantes e dignas de consideração; sempre se deve tirar o chapéu antes de entrar.
Se a pessoa que se visita está escrevendo ou faz alguma outra coisa, não é cortês voltar-lhe as costas, mas deve-se aguardar que ela mesma se volte. Também não é educado entrar com ousadia num lugar em que há várias pessoas ocupadas juntas, exceto se houver
algum caso urgente ou importante que obrigue a isso, ou que não se possa fazer sem ser percebido.
Ao entrar no quarto de uma pessoa e ela não estiver ali, não se deve ir de um lado para outro, nem examinar o que há nele, mas é preciso sair imediatamente e aguardar na antecâmara. Se houver
papéis, escritos, cartas, ou outras coisas semelhantes sobre a mesa do quarto, é falta de civilidade olhar curiosamente o que é. Deve-se pelo contrário desviar o olhar e se afastar.