Da maneira de saudar as pessoas que são visitadas

AS REGRAS DE CORTESIA

SEGUNDA PARTE
Da cortesia nas ações comuns e ordinárias


CAPÍTULO VI

Das visitas 
 
ARTIGO III

Da maneira de saudar as pessoas que são visitadas

A primeira coisa que se deve fazer ao entrar na sala de uma pessoa para a visitar é saudá-la, e lhe prestar a reverência. Esta também é a primeira coisa que o Evangelho nos conta ter feito a Santa Virgem em sua visita que fez a Santa Isabel.

Pode-se saudar alguém de três maneiras diferentes: uma delas é muito ordinária e é a que se faz, em primeiro lugar, tirando o chapéu com a mão direita e levando-o até em baixo e estendendo completamente o braço com o chapéu voltado para fora sobre a coxa direita, enquanto a mão esquerda está totalmente livre.

Em segundo lugar, olhando delicada e modestamente para a pessoa que se saúda. Em terceiro lugar, baixando o olhar e inclinando o corpo. Em quarto lugar, retendo o pé quando se quer avançar e

escorregando-o devagar direto para frente; no caso de querer recuar, puxando o pé esquerdo para trás; quando se passa ao lado, deslizando o pé para frente do lado da pessoa que se quer saudar, e curvando-se e saudando a pessoa, alguns passos antes de estar frente a frente com ela.

Quando se saúda um grupo todo deve-se deslizar o pé para frente; para saudar a pessoa mais importante, e puxar o pé esquerdo para trás, para saudar de um e de outro lado do grupo.

Nunca se deve entrar em lugar algum sem saudar os que lá estão; e, quem entra deve saudar primeiro os que estão dentro.

Isto também precisa fazer quem faz uma visita, mesmo que a pessoa visitada seja inferior: é o que a Santa Virgem fez a respeito de santa Isabel. Também quem recebe a visita deve fazer de modo que chegue antes e se adiante para saudar em primeiro lugar.

Mesmo se a pessoa que faz a visita é de alta condição ou se merece muito respeito, é de boa educação ir recebê-la à porta ou mesmo mais adiante, no caso de ter sido avisado de antemão sobre a visita, para lhe dar os melhores sinais de respeito que lhe tem. É o que

fizeram as santas Marta e Maria Madalena, conforme conta o Evangelho, quando Jesus Cristo as visitou para ressuscitar a Lázaro. Esta foi também a homenagem prestada pelo centurião, quando foi à casa dele para curar o servo doente.

A segunda maneira de saudar é saudar na conversa, é o que ordinariamente se chama uma gentileza. Isto se faz simplesmente descobrindo-se e inclinando-se um pouco e deslizando o pé de maneira imperceptível quando se está de pé.

A terceira maneira de saudar, que é extraordinária, se faz quando alguém vem de fora ou quando uma pessoa se despede de alguém antes de sua partida para uma viagem. Esta maneira de saudar se faz como a primeira; mas deve-se retirar a luva da mão direita, curvar-se humildemente e depois de ter levado a mão até o chão, trazê-la depois suavemente à boca como para a beijar; em seguida se deve erguer suavemente, para não estar exposto a bater com a

cabeça contra a pessoa que se saúda que, por acaso, vier inclinar-se ou até para abraçar.

Quem saúda assim deve inclinar-se tanto mais profundamente quanto a pessoa que saúda é de importância.

Outra maneira extraordinária de saudar é abraçar a pessoa, o que se faz com levar a mão direita por sobre o ombro e a esquerda por baixo, e aproximar um ao outro a face esquerda sem a tocar nem beijar.

Ainda outra maneira de saudar é o beijo que se dá ordinariamente apenas por pessoas que têm alguma união entre si ou alguma amizade particular. Na primitiva Igreja ele era muito em uso entre os fiéis que se serviam dele como sinal sensível de uma união

muito íntima entre si e de uma caridade perfeita. É assim que São Paulo exorta os romanos e todos os outros aos quais escreve como devem se saudar.

A reverência que se faz ao saudar alguém não deve ser curta, mas baixa e grave; deve também ser feita sem afetação e sem ter atitude indecente, como seria voltar a cabeça sem graça, fazer contorções de corpo desagradáveis, baixar-se desmesuradamente ou ficar muito ereto. É indecente fazer uma reverência em cada palavra que se pronuncia.

É contra a boa educação, ao saudar, perguntar ao superiores e alias a qualquer outra espécie de pessoas: Como vai? Porque, a menos que a pessoa saudada esteja doente, só é permitido perguntar estas

coisas a amigos e a pessoas de mesma condição.

Entretanto, uma pessoa de condição superior pode fazê-lo a uma pessoa que lhe é de condição inferior do que ela, ou que é seu inferior.

É muito descortês que as mulheres e as moças mascaradas saúdem alguém enquanto conservam a máscara no rosto, sempre devem retirá-la. Também é uma grande falta de educação entrar na sala de uma pessoa a quem se deve respeito, com o vestido arregaçado, a máscara no rosto ou a touca na cabeça, exceto se essa touca seja clara.

   São João Batista de La Salle (1651-1719)