Palavras de Cristo à esposa sobre a
deserção de um cavaleiro do verdadeiro exército, isto é, da humildade,
obediência, paciência, fé, etc., para o falso exército, isto é, dos vícios
opostos, orgulhos, etc., e a descrição de sua condenação e sobre como uma
pessoa pode encontrar condenação por causa de uma vontade má e também devido a
ações más.
Livro
2 - Capítulo 8
Eu sou o verdadeiro Senhor. Não há outro
Senhor maior que eu. Não houve outro antes de mim e também não haverá depois.
Todo senhorio vem de mim e através de mim. É por isso que Eu sou o verdadeiro
Senhor e nenhum outro a não ser Eu, pode verdadeiramente ser chamado Senhor, pois
todo o poder vem de mim.
Eu te disse anteriormente que tive dois
servos, um deles corajosamente, assumiu um estilo de vida louvável e perseverou
até o fim. Inúmeros outros o seguiram no mesmo caminho do ofício de cavaleiro.
Eu te direi agora sobre o primeiro homem a desertar da profissão de cavaleiro
que foi instituída por meu amigo. Não te direi seu nome, pois não o conheces
por nome, mas revelarei seu propósito e vontade.
Um homem que queria tornar-se cavaleiro
veio ao meu santuário. Quando entrou, escutou uma voz: “Três coisas são
necessárias se quiseres tornar-te cavaleiro: Primeiro, precisas acreditar que o
pão que vês no altar é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o Criador do Céu e
da Terra. Segundo, uma vez que assumiste os serviços de cavaleiro, deves
exercitar-te mais no autodomínio do que estás acostumado. Terceiro, não deves
preocupar-te com honras mundanas. Certamente te darei alegrias e honras
eternas.
Ao ouvir, ponderando consigo mesmo estas
três condições, ele ouviu também uma voz maligna em sua mente fazendo três
propostas contrárias às anteriores. Ela dizia: “Se me servires, far-te-ei três
outras propostas. Eu te deixarei ter o que vês, ouvir o que quiseres e obter o
que desejas”. Quando ele ouviu isso, pensou consigo: “O primeiro senhor me
disse para ter fé em algo que não vejo e me prometeu coisas desconhecidas para
mim. Ele me disse para abster-me dos prazeres que posso ver e que desejo, e
esperar por algo que para mim é duvidoso. O outro senhor me prometeu a honra
mundana que posso ver e o prazer que desejo sem proibir-me de ver ou ouvir tudo
aquilo que gosto.
Com certeza, para mim é melhor segui-lo,
ter o que posso ver e desfrutar das coisas que são certas em vez de esperar por
coisas que para mim são incertas”. Com tais pensamentos, este homem foi o
primeiro começar a deserção do serviço de um verdadeiro cavaleiro. Ele rejeitou
a verdadeira profissão e quebrou sua promessa. Jogou o escudo da paciência aos
meus pés, deixou a espada para a defesa da fé cair de suas mãos e deixou o santuário.
A voz maligna lhe disse: “Se, como eu disse, fores meu, então poderás andar
orgulhosamente pelos campos e ruas. Aquele outro senhor manda seus homens serem
constantemente humildes. Assim, certifica-te de não evitar o orgulho e a
ostentação! Enquanto aquele outro senhor fez sua entrada pela obediência e se
sujeitou à obediência em toda jornada, tu não deves deixar ninguém ser teu
superior. Não dobres teu pescoço humildemente a outras pessoas.
Toma tua espada para derramar o sangue
de teu vizinho e irmão, para tomar posse de sua propriedade.
Empunhe o escudo em teu braço e arrisque
tua vida para ganhar renome! Em vez da fé que ele defende, ame o templo de teu
próprio corpo sem te absteres de nenhum prazer que o deleite”.
Enquanto o homem estava ajustando sua
mente e fortalecendo sua decisão com esses pensamentos, seu príncipe colocou
sua mão no pescoço do homem no ponto indicado. Nenhuma parte do corpo, qualquer
que seja, pode danificar alguem que tenha boa vontade ou ajudar alguem cuja
intenção é má. Após a confirmação de sua condição de cavaleiro, o coitado traiu
o serviço de cavaleiro ao exercê-la tendo em vista o orgulho mundano, não
levando a sério o fato de que estava agora, mais do que antes, sob a maior
obrigação de viver uma vida austera. Inúmeros exércitos de cavaleiros imitaram
e ainda imitam esse cavaleiro em seu orgulho, que afundou a todos no mais fundo
abismo devido aos seus juramentos de cavaleiros.
Porém, já que há muitas pessoas que
desejam crescer no mundo e conquistar renome, mas não o conseguem, podes
perguntar: Essas pessoas têm que ser punidas pela maldade de suas intenções da
mesma forma que aquelas que alcançam seu desejado sucesso? A isso eu te
respondo: Asseguro-te que qualquer um que ardentemente pretenda crescer no
mundo e faça tudo o que puder para isso com a intenção de um vazio título de
honra mundana, embora sua intenção nunca alcance seu efeito devido a uma
secreta decisão minha, tal homem será punido pela maldade de sua intenção da
mesma forma que aquele que consiga alcançar isso, isto é, a menos que retifique
sua intenção através da penitência.
Veja, dar-lhe-ei o exemplo de dois
indivíduos muito bem conhecidos por muitas pessoas. Um deles prosperou de
acordo com seus desejos e obteve quase tudo que desejou. O outro teve a mesma
intenção, porém não as mesmas possibilidades. O primeiro obteve renome mundial;
ele amou o templo do seu corpo em toda luxúria; teve o poder que ele quis; tudo
em que tocou prosperou. O outro era idêntico a ele em intenção, porém recebeu
menos renome. Ele teria com vontade, derramado cem vezes o sangue do próximo
para realizar seus planos de ambição.
Ele fez o que pôde e realizou sua
vontade de acordo com seu desejo. Estes dois homens foram semelhantes em sua
horrível punição. Embora não morram ao mesmo tempo, eu ainda posso falar de uma
alma a invés de duas, já que sua condenação foi uma e a mesma. Ambos tiveram a
mesma coisa a dizer quando o corpo e a alma foram separados e a alma partiu.
Uma vez tendo deixado o corpo, a alma disse a ele: “Diga-me, onde estão agora
as visões para deleitar meus olhos que me prometeste e onde está o prazer que
me mostraste, onde estão as palavras agradáveis que me mandaste usar?” O
demônio estava lá e respondeu:
“As visões prometidas nada mais são do
que pó, as palavras nada são além de ar, o prazer nada mais é do que lama e
podridão. Estas coisas não têm valor para ti agora”. A alma então gritou: “Ai
de mim, ai de mim, fui miseravelmente enganada! Eu vejo três coisas.
Eu vejo aquele que me foi prometido na
aparência de pão. Ele é o verdadeiro Rei dos reis e Senhor dos senhores. Vejo o
que ele prometeu, e é indescritível e inconcebível. Eu vejo agora, que a
abstinência que ele recomendou, era realmente mais proveitosa”. Então, com uma
voz ainda mais alta, a alma gritou três vezes: “Ai de mim, que nasci! Ai de
mim, cuja vida na Terra foi tão longa! Ai de mim, que devo existir em uma morte
perpétua e interminável!”
Veja a desgraça que as pessoas ruins
terão em retorno pelo desprezo a Deus e pela alegria passageira! Então, você
deve me agradecer, minha esposa, por ter-te afastado de tal desgraça! Seja
obediente ao meu Espírito e aos meus escolhidos!