1 Parte-DA MODÉSTIA
CAPÍTULO X
Do bocejar, do cuspir e do tossir
As boas maneiras requerem que a pessoa se abstenha de bocejar quando está com outras pessoas, principalmente com pessoas a que deve certo respeito; pois isto denota que está aborrecida, quer da
companhia, quer da conversa dos presentes, ou que se tem pouca estima por eles. Contudo quando se estiver obrigado a fazê-lo por necessidade, deve-se então deixar completamente de falar e colocar a mão ou o lenço diante da boca e voltar-se um pouco de lado, para
não ser percebido ao fazê-lo pelos presentes.
Principalmente se deve tomar cuidado ao bocejar de não fazer alguma
coisa inconveniente. Assenta muito mal fazê-lo com ruído e mais ainda alongar-se e se estender ao fazê-lo.
Ninguém deve abster-se de cuspir e é muito vil engolir o que se deve cuspir, isto é capaz de causar náuseas.
Contudo não se deve adquirir o costume de cuspir com demasiada freqüência e sem necessidade.
Isto não só é inconveniente, mas repugnante e incomoda todo o mundo. Deve-se procurar que a necessidade de cuspir seja rara quando se está em sociedade, principalmente com pessoas a quem se deve ter um respeito particular.
Quando alguém está na companhia de pessoas de qualidade e quando se está em lugar que se mantém limpo, deve cuspir no lenço enquanto se volta um pouco de lado.
Também seria muito educado se cada um se acostumasse a cuspir no lenço quando está na casa dos Grandes, e em todos os lugares que estão encerados ou com parquete. Mas é muito mais necessário tomar o costume de o fazer quando se está numa igreja. O respeito devido a esses lugares consagrados a Deus e destinados a neles prestar a Deus o culto devido, exige que os mantenhamos muito limpos e em honra, até o assoalho em que pisamos. Contudo acontece muitas vezes que não se encontre um piso de cozinha ou
mesmo de estrebaria mais sujo do que o da igreja, embora ela seja
a morada e a casa de Deus na terra.
Depois de ter cuspido no lenço, deve-se dobrálo em seguida, sem o ficar olhando, e recolocá-lo no bolso.
É falta de cortesia cuspir pela janela ou no fogo, ou sobre as brasas, ou contra a chaminé, ou mesmo contra a parede ou em qualquer outro lugar em que não se possa pisar sobre o cuspo. Também é contra a boa educação cuspir diante si na presença dos outros, ou
fazê-lo de muito longe e de maneira que se está obrigado a procurar o cuspo para pisar sobre ele.
Deve-se tomar muito cuidado de nunca cuspir sobre a roupa, nem sobre os outros; fazer isto seria estar bem sujo ou muito pouco circunspecto.
Há um defeito que não é menos considerável e do qual se precisa ter muito cuidado e que é, ao falar, soltar saliva no rosto da pessoa com que se fala; isto é muito descortês e absolutamente desagradável.
Quando se vê no chão algum escarro considerável, deve-se imediatamente colocar com jeito o pé sobre ele. Ao percebê-lo sobre a roupa de alguém, não é cortês dá-lo a conhecer; mas deve-se chamar um empregado para o remover, e, se não houver algum empregado, deve-se pessoalmente removê-lo sem que
alguém o perceba, pois a cortesia requer que não se faça aparecer seja o que for que pudesse causar malestar ou confusão. Se alguém teve a gentileza de nos prestar este serviço é preciso mostrar-lhe um
agradecimento todo especial.
Há alguns defeitos no tocante ao cuspir aos quais se deve
prestar uma atenção muito grande para não cair neles. Alguns fazem muito ruído e um ruído que é mesmo muito desagradável; este defeito consiste em arrancar á força o muco e o escarro do peito; é o
que mais ordinariamente acontece com os idosos. Esta maneira de cuspir é muito descortês. Deve-se ter cuidado para que, ao cuspir, não se incomodem os outros, não fazer ruído ou fazer muito pouco.
Outros ainda há que seguram seu escarro por muito tempo na boca. Isto é totalmente contrário à cortesia que requer que se cuspa imediatamente quando o muco está na língua.
Até há alguns que algumas vezes trazem, com a língua, o escarro e a saliva até a borda dos lábios (é o que acontece ordinariamente só com crianças). Há pessoas que cospem expressamente sobre os outros e outros que cospem no chão ou no ar. Esta sorte de
asneiras e impertinências são incivilidades de que uma pessoa correta não pode ser capaz.
Qualquer pessoa deve abster-se de tossir quanto puder e precisa tomar cuidado para não o fazer à mesa, ao falar com alguém ou alguém fala com ela. Este respeito se deve particularmente à Palavra de Deus, quando se a escuta, a fim de não impedir que os outros a ouçam com facilidade. Mas não há ninguém que, ao
precisar tossir em sociedade, não deva dar um jeito de o fazer raramente e
sem muito ruído.