SEGUNDA PARTE
Da cortesia nas ações comuns e ordinárias
CAPÍTULO VI
Das visitas
ARTIGO V
Da maneira de se despedir e sair das visitas
Quando uma pessoa visita alguém que é de condição superior ou quando percebe que essa pessoa com que está tem alguma coisa a fazer, ela não deve se demorar tanto até ser obrigada a ser despedida. Sempre é melhor retirar-se por conta própria e convém tomar o tempo para sair quando a pessoa com que se está fica
em silêncio, quando chama alguém ou quando dá algum outro sinal de que tem outra coisa a fazer.
Não se deve sair sem saudar e sem se despedir de um grupo; contudo, se alguém está na casa de uma pessoa de posição eminente e quando um outro lhe fala logo depois de nós ou se volta para outra coisa, imediatamente depois de nos ter falado, convém sair
sem nada dizer, e mesmo sem que seja notado. E, se a pessoa sai sozinha deve abrir e fechar a porta mansamente sem fazer qualquer ruído, e só colocar o chapéu depois de
a ter fechado.
Ao sair da casa de uma pessoa que se acaba de visitar deve-se procurar que ela não se dê o trabalho de nos acompanhar; contudo não se deve recusar com insistência essa honra e no caso de a pessoa querer fazê-lo, deve-se, durante esse tempo, ficar sem chapéu e dar depois a essa pessoa sinais de agradecimento
fazendo-lhe uma profunda reverência.
Quando se trata de uma pessoa de condição muito superior que presta essa honra, não se deve impedi-la, porque isto mostraria que não se está muito persuadido de que sabe o que está fazendo; e poderia acontecer por vezes que nos escusaríamos muito mal
de uma coisa que essa pessoa não faria por nós. Deve-se deixá-la vir até onde quiser, e ao se afastar, agradecer gentilmente fazendo-lhe uma profunda reverência.
Nestas ocasiões, contudo, pode-se manifestar por algum sinal, de que, se é a nós que se presta esta homenagem, não a atribuímos a nós. E isto se deve fazer prosseguindo seu caminho, sem olhar para trás ou mesmo voltando-se ou ficando parado, como para deixar passar a pessoa que nos acompanha, e mostrar com isso, que se acredita que ela tem de ir a outro lugar.
Se é visível que é a nós e não a essa pessoa que se dirige a gentileza de nos acompanhar e nos conduzir, então é preciso ficar parado sem mais, chegar-se do lado e não sair de seu lugar até que ela tenha voltado
para seu quarto.
Quando a pessoa que se visitou conduz até a porta da rua, não se deve montar a cavalo ou no veículo na presença dela, mas pedir-lhe que volte para casa antes de montar. Se, porém, ela que permanecer,
deve-se ir embora a pé e fazer com que o carro nos siga ou conduzir o cavalo pelo cabresto, se viemos montados, até que essa pessoa tenha voltado ou não apareça mais.