Da testa, das sobrancelhas e das faces

AS REGRAS DE CORTESIA
1 Parte-DA MODÉSTIA


CAPÍTULO V

Da testa, das sobrancelhas e das faces

É muito descortês manter a testa enrugada; ordinariamente isto é sinal de um espírito inquieto e melancólico. Deve-se tomar cuidado para que nela nada apareça de rude, mas que tenha um aspecto de

sabedoria, de bondade e bem-querença.

O respeito que se deve ter para com os outros não permite, ao falar com alguém, que se bata com a ponta do dedo a testa, para dizer que é uma pessoa presa a sua opinião e seu juízo, ou então bater com o dedo recurvado sobre a testa de um outro, quando se

quer manifestar que se tem esta opinião dele.

Uma familiaridade descortês consiste em duas pessoas se esfregarem ou baterem na testa uma contra a outra, mesmo por brincadeira; isto absolutamente não é conveniente para pessoas razoáveis.

É descortês franzir as sobrancelhas; é um sinal de altivez, e deve-se mantê-las sempre estiradas.

Levantá-las é sinal de desprezo e baixá-las sobre os olhos demonstra melancolia. Não é de boa cortesia cortá-las curto demais, porque devem cobrir toda a pele e aparecer suficientemente.

O mais belo ornamento das faces é o pudor que deve ruborizar numa pessoa bem nascida, quando se profere em sua presença alguma palavra desonesta, mentira ou maledicência. De fato somente os insolentes e os impudentes são capazes de mentir com

ousadia ou dizer ou fazer alguma coisa indecente sem terem as faces ruborizadas.

É falta de cortesia mover demais as faces ou têlas abatidas e pior ainda dilatá-las com ar; este é o efeito quer de arrogância, quer de qualquer outro movimento muito violento de cólera.

Ao comer deve-se fazê-lo de tal maneira que as faces não estejam mais levantadas, e é muito descortês, durante a comida, encher ambas as bochechas; quando isto acontece manifesta-se que se está comendo com demasiada avidez e isto só pode ser efeito de gula

completamente exagerada.

Nunca se deve tocar as próprias faces, nem as do um outro, como para lisonjear. Deve-se evitar cuidadosamente beliscar a face de quem quer que seja, mesmo de uma criança; isto é um gesto muito

inconveniente.

Também não se deve tomar a liberdade de tocar na face, mesmo que seja para rir e por brincadeira; todas essas maneiras de agir são familiaridades que nunca são permitidas.

Dar uma bofetada na face é fazer uma grande injúria para um homem; no mundo isto é considerado como uma injúria insuportável. O Evangelho aconselha suportá-la e quer que os cristãos que procuram imitar Jesus Cristo em sua paciência, estejam dispostos e mesmo prontos depois de ter sido esbofeteados, a

apresentar a outra face, para receber uma segunda, mas proíbe dá-la. Somente uma cólera muito grande ou o sentimento de vingança é que são capazes de a ocasionar.

Um homem correto nunca deve levantar a mão para bater na face. A cortesia e a honestidade nunca o permitem nem sequer para um empregado.

   São João Batista de La Salle (1651-1719)