Sobre como Cristo é comparado a um
poderoso senhor que constrói uma grande cidade e um lindo palácio, que
representam o mundo e a Igreja, e sobre como os juízes, e trabalhadores da
Igreja de Deus se converteram em um arco inútil.
Livro 1 - Capítulo 55
Sou como um poderoso senhor que
construiu uma cidade e deu seu nome a ela. Na cidade, construiu um palácio no
qual havia vários pequenos cômodos para armazenar o necessário. Depois de haver
construído o palácio e organizado todos os seus assuntos, dividiu seu povo em
três grupos, dizendo: ‘Estou partindo para uma região remota. Ficai firmes e
trabalhai bravamente pela minha glória! Providenciei vossa comida e outras
necessidades. Tendes juízes para julgá-los, defensores para protegê-los de
vossos inimigos, e encarreguei a uns empregados para alimentá-los. Eles hão de
pagar-me o dízimo de seu trabalho, reservando-o para meu uso e em minha honra.”
Entretanto, passado certo tempo, o nome
da cidade caiu no esquecimento. Então, os juízes disseram: ‘Nosso senhor viajou
para uma região remota. Que julguemos corretamente e façamos justiça de modo
que, quando ele retornar, não seremos acusados, e sim elogiados e abençoados’.
Então, os defensores disseram: ‘Nosso senhor confia em nós e entregou sua casa
a nossos cuidados. Vamos nos abster de alimentos e bebidas supérfluas, para não
ficarmos inaptos em caso de batalha! Vamos nos abster do sono excessivo, para
não sermos capturados de improviso!
Estejamos também bem armados e em alerta
constante, para não sermos surpreendidos em um ataque inimigo! A honra de nosso
senhor e a segurança de seu povo dependem muito de nós’. Depois, os empregados
disseram: ‘A glória de nosso senhor é grande e sua recompensa é maravilhosa.
Vamos trabalhar com vigor e demos a ele não apenas um décimo de nosso trabalho,
mas sim, tudo o que nos sobrar daquilo que gastamos para viver ! Todos nossos
salários serão mais gloriosos quanto mais amor nosso senhor veja em nós.”.
Depois disso, algum tempo mais se passou
e o senhor da cidade e seu palácio foram ficando esquecidos. Então os juízes
disseram para si mesmos: ‘Nosso senhor está demorando muito. Não sabemos se
voltará ou não. Assim, julguemos da forma que quisermos e façamos o que nos
agrada!’
Os defensores disseram:”Somos uns tolos
porque trabalhamos e não sabemos qual será nossa recompensa!"
Aliemos-nos a nossos inimigos e durmamos
e bebamos com eles! Pois, não é assunto nosso de quem hajam sido
inimigos.”.’Depois disso, os empregados disseram: ‘Por que guardamos nosso ouro
para outro? Não sabemos quem ficará com ele.
É melhor, então, que o usemos e
disponhamos de acordo com nossa vontade. Demos a décima parte aos juízes, e,
tendo-os de nosso lado, poderemos fazer o que quisermos’.
Em verdade sou como esse poderoso
senhor. Construí Eu mesmo uma cidade, isto é, o mundo, e ali coloquei um
palácio, isto é, a Igreja. O nome dado ao mundo foi sabedoria divina, pois o
mundo teve esse nome desde o princípio, ao haver sido feito na divina
sabedoria. Este nome era venerado por todos e Deus era louvado por seu
conhecimento e maravilhosamente aclamado por todas as suas criaturas. Nos
tempos atuais, o nome da cidade foi desonrado e mudado, e sabedoria mundana é o
novo nome que se usa.
Os juízes, que no passado davam
sentenças justas no temor do Senhor, agora se levantam em soberba e se tornam a
ruína das pessoas simples. Aparentam ser eloquentes para receberem elogios
humanos; falam agradavelmente para obter favores. Toleram quaisquer palavras
para que digam que são bons e compassivos; mas permitem-se ser subornados para
ditar sentenças injustas. São sábios no que diz respeito a seus próprios
benefícios mundanos e a seus próprios desejos, mas são mudos em meu louvor.
Menosprezam as pessoas simples e as mantêm quietas. Estendem a todos sua cobiça
e convertem o certo em errado. Esta é a sabedoria apreciada nos dias de hoje,
enquanto que a minha caiu no esquecimento.
Os defensores da Igreja, que são os
nobres e os cavaleiros, olham para meus inimigos, os assaltantes da minha
Igreja, e fingem que não os veem Escutam suas repreensões e não se importam.
Conhecem e compreendem as obras daqueles que violam meus mandamentos e,
entretanto os suportam pacientemente. Eles os observam diariamente, perpetrando
todo tipo de pecado mortal com impunidade e não sentem compulsão mas dormem
lado a lado com eles e tem se relacionado com eles, ligando-se à suas
companhias mediante juramento. Os empregados, que representam todos os
cidadãos, rejeitam meus mandamentos e retêm meus presentes e dízimos. Subornam
os juízes e lhes demonstram reverência para garantir sua boa vontade e favores.
Atrevo-me a dizer, de fato, que a espada do temor a mim e a minha Igreja na
terra foi degradada, e uma bolsa cheia de dinheiro foi aceita em troca.