Consideração VIII
Afetos e Súplicas.
Meu caro Jesus, inflamai-me de vosso santo amor, pois que para isso viestes à terra. É verdade que eu, miserável, por vos haver ofendido após tantas luzes e graças especiais que me destes, não mereço arder nessas benditas chamas, em que ardiam os Santos; as chamas do inferno deveriam ser a minha partilha; mas, apesar da minha ingratidão, estou ainda fora dessa horrível prisão que tenho merecido; ouço que vos, voltando-vos para mim, me dizeis: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração. Ó meu Deus, agradeço-vos por me renovardes esse doce preceito; e já que me mandais amar-vos, quero obedecer-vos, quero amar-vos de todo o meu coração. Senhor, no passado fui um ingrato, um cego; esqueci voluntariamente o amor que tendes por mim; mas agora que me aclarais novamente e me recordais tudo o que fizestes por meu amor; agora que considero que vos fizestes homem por mim e que vos carregastes das minhas misérias; agora que vos vejo sobre a palha, tremendo de frio, gemendo e chorando por mim, ó divino Infante, como poderia viver sem vos amar? Ah! perdoai-me, amor meu, perdoai todos os desgostos que vos tenho dado. Ó Deus, como pude ofender-vos assim, sabendo pela fé tudo o que sofrestes por mim? Mas essas palhas que vos pungem, essa vil manjedoura que vos acolhe, esses ternos vagidos que soltais, essas lágrimas de amor que derramais, fazem-me esperar com confiança o perdão de minhas falta e a graça de vos amar o resto de minha vida. Sim, eu vos amo, ó Verbo encarnado, eu vos amo, ó divino Infante, eu vos amo e me dou todo a vós. Pelas penas que sofreis no estábulo de Belém, ó meu Jesus, não rejeiteis um mísero pecador que quer amar-vos. Ajudai-me e dai-me a perseverança; tudo espero de vós.
Ó Maria, que sois a digna Mãe de tão grande Filho e a mais amada desse Filho, rogai por mim.
Santo Afonso Maria de Ligorio