Últimos ensinamentos de Jacinta Marto

Últimos ensinamentos de Jacinta

   Em Lisboa, foi primeiramente acolhida no Orfanato de Nossa Senhora dos Milagres, dirigido por freiras. Em meio a tantos sofrimentos, era para ela um alívio estar entre pessoas consagradas à caridade. Olhava-as como almas escolhidas por Nosso Senhor, especialmente a Madre Godinho, que desde logo se tomou de imenso afeto pela pequena pastora. Jacinta a chamva carinhosamente de "madrinha".
    Foi, aliás, essa bondosa e abnegada freira que registrou as últimas palavras de Jacinta, tão inspiradas, tão graves e tão cheias de sabedoria, que podem ser consideradas como verdadeiros ensinamentos. E o são sobretudo para os jovens, iludidos em geral pelos falsos prazeres da vida e, que se deixam arrastar pelos maus exemplos dos costumes e modas imorais. Sirvam-lhes, portanto, esses conselhos e advertências da pastorinha de Fátima, como se fosssem ditos para cada um deles.

              Sobre o pecado:
 "Os pecados que levam mais almas para o Inferno são os pecados da carne.
Virão umas modas que vão ofender muito a Nosso Senhor. As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo!
Os pecados do mundo são muito grandes.
Se os homens soubessem o que é a eternidade, fariam de tudo para mudar de vida. Os homens perdem-se porque não pensam na morte de Nosso Senhor e não fazem penitência.
Muitos matrimônios não são bons, não agradam a Nosso Senhor e não são de Deus!

Sobre as virtudes cristãs
– "Minha madrinha, não ande no meio do luxo; fuja das riquezas. Seja muito amiga da santa pobreza e do silêncio. Tenha muita caridade, mesmo com quem é mau. Não fale mal de ninguém e fuja de quem diz mal. Tenha muita paciência, porque a paciência leva-nos para o Céu. A mortificação e os sacrifícios agradam muito a Nosso Senhor. A confissão é um sacramento de misericórdia. Por isso é preciso aproximarem-se do confessionário com confiança e alegria. Sem confissão não há salvação. A Mãe de Deus quer mais almas virgens, que se liguem a ela pelo voto de castidade. Para ser religiosa é preciso ser muito pura na alma e no corpo".
– "E sabes tu o que quer dizer ser pura? – pergunta a madre Godinho. –
"Sei, sei. Ser pura no corpo é guardar a castidade; e ser pura na alma é não fazer pecados; não olhar para o que não se deve ver, não roubar, não mentir nunca, dizer sempre a verdade ainda que nos custe... Quem não cumpre as promessas que faz a Nossa Senhora nunca terá felicidade nas suas coisas. Os médicos não têm luz para curar bem os doentes, porque não têm amor a Deus".

Sobre os Sacerdotes
- "Minha Madrinha peça muito por eles! Os Padres deveriam ocupar-se das coisas da Igreja! Eles devem ser puros, muito puros! A desobediência dos Padres e religiosos aos seus superiores e ao Santo Padre ofende muito a Nosso Senhor!

Sobre os Governantes
- "Minha Madrinha peça pelos governantes! Ai daqueles que perseguem a religião de Nosso Senhor! Se o Governo deixasse em paz a Igreja e desse liberdade a Santa Religião, seriam abençoados por Deus!"

O respeito pelo Santíssimo Sacramento
 Reparando que algumas pessoas não estavam com a devida compostura e atenção, dizia-me: "Não deixe, madrinha, que esta gente não esteja diante do Santíssimo Sacramento como se deve estar. Na igreja deve-se estar sossegado e não falar. (...) Há-de dizer ao Sr. Cardeal, sim? Nossa Senhora não quer que a gente fale na Igreja."

Sobre a guerra
- "Nossa senhora disse que há muitas guerras e discórdias. As guerras não são senão castigos pelos pecados do mundo. Nossa Senhora já não pode suster o braço do seu amado Filho. É preciso fazer penitência. Se a gente se emendar, ainda Nosso Senhor valerá ao mundo; mas, se não se emendar, virá o castigo".

"Nosso Senhor está profundamente indignado com os pecados e crimes que se cometem em Portugal. Por isso um terrível cataclismo de ordem social ameaça o nosso País e principalmente a cidade de Lisboa. Desencadear-se-á, segundo parece, uma guerra civil de carácter anarquista ou comunista, acompanhada de saques, morticínios, incêndios e devastação de toda a espécie. A capital converter-se-á numa verdadeira imagem do inferno. Na ocasião em que a divina justiça ofendida infligir tão pavoroso castigo, todos aqueles que o puderem fazer fujam dessa cidade. Este castigo agora predito convém que seja anunciado pouco a pouco e com a devida descrição. Se os homens não se converterem, Nossa Senhora enviará um castigo que nunca se viu igual, e antes dos outros Países, a Espanha."

Quem nãi cumpre as promessas que faz a Nossa Senhora nunca terá felicidades nas suas coisas.”
Impressionada pela profundida e pelo acerto dessas palavras, Madre Godinho perguntou a Jacinta quem lhe havia ensinado todas essas coisas.
- Foi Nossa Senhora - respondeu a menina - mas algumas, penso-as eu. Gosto muito de pensar.


 Último sacrifício: na morte, isolamento


Tão heróica foi a morte quanto a vida de Jacinta, num hospital de Lisboa, inteiramente sozinha. Este fato foi objeto de uma das últimas previsões recebidas por Jacinta, diretamente de Nossa Senhora. Com que coragem conservou a menina este pensamento! Deixemo-la narrar esta profecia, por ela confiada a Lúcia:
    “Nossa Senhora disse-me que vou para Lisboa, para outro hospital; que não te torno a ver, nem aos meus pais; que depois de sofrer muito, morro sozinha; mas que não tenha medo, que me vai lá Ela me buscar para o Céu.”
     Nossa Senhora anunciou também o dia e a hora em que deveria morrer. Quatro dias antes, a Santíssima Virgem tirou-lhe todas as dores. Como ninguém esteve presente nesse grandioso momento, podemos apenas imaginar a cena. Como terá sido a recepção deste pequeno lírio no Céu? Diante de Nossa Senhora, aquele rosto virginal não estará mais contraído pelo sofrimento, mas resplandecente em presença dAquele que foi o Fundamento de sua vida: Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro do peito e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!”
De que maneira o conhecimento da vida de Jacinta atua sobre as almas, pode-se deduzir das palavras do postulador das Causas de Beatificação dela e de seu irmão Francisco: “Nunca na História da Igreja duas crianças foram tão conhecidas e estimadas quanto Francisco e Jacinta. Elas têm trazido inúmeras almas para o caminho da perfeição”.