Sonhos Proféticos de Dom Bosco



Dom Bosco escreveu que, em 1870, se encontrou como que numa ‘realidade sobrenatural’, e ouviu uma voz que lhe informou fatos futuros. Eis algumas partes do que ouviu: “Agora a voz do céu é para o Pastor dos Pastores: ‘Tu estás na grande conferência, com os teus assessores, mas o inimigo do bem não fica quieto um instante. Ele estuda e pratica todas as artes contra ti. Semeará a discórdia entre os teus assessores, criará inimigos entre os meus filhos.  As potências do século vomitarão fogo e gostariam que as palavras fossem sufocadas na garganta dos guardiões da minha lei. Isso não acontecerá”.
     ... Que farei? Baterei nos pastores, dispensarei o rebanho, para que os sentados na cadeira de Moisés procurem bons pastos, e o rebanho, docilmente, ouça e se alimente.  Mas sobre o rebanho e sobre os pastores pesará minha mão. A carestia e a peste farão com que as mães chorem o sangue dos filhos e dos maridos mortos em terra inimiga.
     E de ti, Roma, que será? Roma ingrata, Roma efeminada, Roma soberba. Tu chegaste a tal ponto que não procuras outra coisa, nem nada mais admiras em teu soberano senão o luxo, esquecendo que sua glória verdadeira está sobre o monte Gólgota. ...  Roma! ... Eu irei a ti quatro vezes. Na primeira golpearei as tuas terras e os seus habitantes. Na segunda, levarei a destruição e o extermínio até os teus muros. Não abres ainda os olhos?
     Virei a terceira vez e derrubarei as defesas e os defensores, e ao comando do Pai seguirá o reino do terror, do medo e da desolação. Mas os meus sábios fogem. A minha lei continua sendo pisada. Por isso farei a quarta visita. A guerra, a peste e a fome são flagelos com os quais serão castigadas a soberba e a malícia dos homens
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   Outro sonho profético de Dom Bosco: Era uma noite escura. Os homens não podiam mais discernir qual fosse o caminho para retornar a suas aldeias, quando apareceu no céu uma luz esplendorosíssima que esclarecia os passos dos viajantes como se fosse meio-dia. Naquele momento, foi vista uma multidão de homens, de mulheres, de velhos, de crianças, de monges, freiras e sacerdotes, tendo à frente o Pontífice, sair do Vaticano enfileirando-se em forma de procissão. Mas eis um furioso temporal escurecendo, um tanto, àquela luz. Parecia engajar-se uma batalha entre a luz e as trevas.
     Chegou-se a uma pequena praça coberta de mortos e de feridos, dos quais vários pediam conforto em altas vozes. As fileiras da procissão se tornaram bastante ralas. Depois de ter caminhado por um espaço de duzentos levantar do sol, cada um percebeu que não estava mais em Roma.
      O espanto invadiu os ânimos de todos, e cada um se recolheu em torno do Pontífice para guardar a sua pessoa e assisti-lo em suas necessidades. Naquele momento, foram vistos dois anjos que portavam um estandarte e o foram apresentar ao Pontífice dizendo: “Recebe o auxílio d'Aquela que combate e dispersa os mais fortes exércitos da terra. Os teus inimigos desapareceram, os teus filhos, com lágrimas e com suspiros invocam o teu retorno”.
 Levantando, depois, o olhar para o estandarte, se via escrito nele, de um lado: 'Regina sine labe originale concepta '(Rainha concebida sem pecado original) e do outro lado: 'Auxillium Christianorum' (Auxílio dos cristãos). O Pontífice tomou o estandarte com alegria, mas tornando a olhar o pequeno número daqueles que haviam permanecido em torno de si, ficou aflitíssimo.  
     Os dois anjos acrescentaram: 'Vai depressa consolar os teus filhos. Escreve a teus irmãos dispersos nas várias partes do mundo que é preciso uma reforma nos costumes e nos homens. Isto só se poderá obter repartindo aos povos o pão da Divina Palavra. Catequizai as crianças, pregai o desapego das coisas da terra.' 'Chegou o tempo', concluíram os dois anjos, 'que os pobres serão os evangelizadores dos povos. Os Levitas serão buscados entre a enxada, a pá e o martelo, a fim de que se cumpram as palavras de Davi: Deus levantou o pobre da terra para colocá-lo sobre o trono dos príncipes do teu povo.
     'Ouvindo isto, o Pontífice se moveu e as filas da procissão começaram a engrossar-se. Quando, afinal, ele colocou o pé na cidade santa, começou a chorar por causa da desolação em que estavam os cidadãos, dos quais muitos não existiam mais. Reentrado, enfim, em São Pedro, ele entoou o Te Deum, que foi respondido por um coro de anjos, cantando: 'Gloria in excelsis Deo, et pax in terris hominibus bonae voluntatis'.
     Terminado o canto, cessou de fato toda escuridão e se manifestou um sol fulgidíssimo. As cidades, as aldeias, os campos tinham a população muito diminuída, a terra estava pisada como por um furacão, por um temporal e pelo granizo, e as pessoas iam umas para as outras dizendo com ânimo comovido: 'Há um Deus em Israel'. Do começo do exílio até o canto do Te Deum, o sol se levantou duzentas vezes. Todo o tempo que transcorreu para se cumprirem estas coisas corresponde a quatrocentos levantar de sol".
 Outra profecia : Guerras entre os príncipes e súditos, entre o dogma e o erro, a luz e as trevas, o pobre e o rico. - Um grandioso acontecimento se está preparando no céu, para fazer pasmar a gente. - Far-se-á uma grande reforma entre todas as nações, e o mundo irá misturar-se como um oceano ... Russos, alemães, prussianos, cossacos, persas, polacos, franceses e italianos farão uma mistura, e lá na China e na Índia findará a rebeldia. ... Nunca o grande marulho se aferventou tão forte, nunca se viu um lobo desta espécie. ... A Rússia e a Inglaterra tornar-se-ão católicas. A Itália será pacificada, e o turco cairá por terra. Conquistarão os lugares da Santa Palestina, e no alto das cúpulas erguer-se-á a Cruz Latina. - Depois, paz universal”.   


Dom Bosco teve este outro sonho em 1862, portanto antes da realização do Concílio Vaticano I, em 1870. Damos aqui a versão do sonho tal qual se acha na famosa obra de Lemoyne: Memórias Autobiográficas de Dom Bosco, vol VII, pp. 169 a 171. Dom Bosco, no dia 26 de maio, havia prometido aos jovens que lhes contaria alguma coisa bonita no último ou no penúltimo dia do mês. No dia 30 de maio, pois, contou, à noite, uma parábola ou semelhança, como ele quis chamá-la. (Vamos numerar para explicar abaixo)
     'Quero contar-lhes um sonho. É verdade que quem sonha não raciocina, todavia, eu, que lhes contaria até mesmo os meus pecados, se não tivesse medo de fazer que vocês todos fugissem e fazer cair a casa, lhes conto isso para utilidade espiritual de vocês. O sonho, eu o tive há alguns dias.
     Imaginem vocês de estar comigo numa praia do mar, ou antes, sobre um escolho isolado, e de não ver outro espaço de terra a não ser aquele que lhes está sob os pés. Em toda aquela vasta superfície das águas se via uma multidão inumerável de navios (1) em ordem de batalha, cujas proas eram terminadas por um agudo esporão de ferro em forma de lança, que, onde era dirigido, feria e traspassava qualquer coisa. Estes navios estavam armados com canhões, carregados com fuzis, com outras armas de todo gênero, com matérias incendiárias, e também com livros, e avançavam contra um navio muito maior e mais alto que todos eles, tentando chocar-se com ele por meio do esporão, incendiá-lo, ou então lhe causar todo o dano possível.
    Aquela nave majestosa, perfeitamente guarnecida, era escoltada por muitas navezinhas que recebiam dela os sinais de comando e executavam manobras para se defender das frotas adversárias. O vento lhes era desfavorável e o mar agitado parecia favorecer os inimigos.(2) No meio da imensa extensão do mar elevavam-se acima das ondas duas robustas colunas, altíssimas, pouco distantes uma da outra. Sobre uma delas havia a estátua da Virgem Imaculada, a cujos pés pendia um longo cartaz com esta inscrição: Auxilium Christianorum; sobre a outra, que era muito mais alta e mais grossa, havia uma Hóstia de grandeza proporcional à coluna, e sobre um outro cartaz, com as palavras: Salus Credentium (salvação dos que crêem).(3)
      O comandante supremo da grande nau, que era o Romano Pontífice, vendo o furor dos inimigos e o mau partido em que se achavam os seus fiéis, pensa convocar para junto de si os pilotos dos navios secundários, para ter um conselho e decidir o que se deveria fazer. Todos os pilotos sobem e se reúnem em torno do Papa. Mantêm uma reunião, mas, enfurecendo-se cada vez mais o vento e a tempestade, eles são mandados de volta para dirigir seus próprios navios.
     Ocorrendo um pouco de calmaria, o Papa reúne os pilotos de novo, pela segunda vez em torno de si (4), enquanto a nau capitania segue o seu curso. Mas a borrasca volta espantosa. O Papa permanece no timão, e todos os seus esforços são dirigidos a levar a nau para o meio daquelas duas colunas, de cujo cimo pendem, em toda a volta delas, muitas âncoras e grossos ganchos presos a correntes.
     Os navios inimigos se movem todos a assaltá-la, e tentam de todo modo detê-la e fazê-la afundar. Algumas com escritos, com livros, com matérias incendiárias de que estão cheias, e que buscam lançá-las a bordo; as demais com os canhões, com os fuzis, e com os esporões; o combate se torna cada vez mais encarniçado. As proas inimigas a chocam violentamente, mas seus esforços e seu ímpeto se revelam inúteis. Em vão tentam de novo o ataque e desperdiçam toda a sua fadiga e munições: a grande nau prossegue seguramente e livre em seu caminho (5). Ocorre por vezes que, atingida por golpes formidáveis, apresenta em seus flancos largas e profundas brechas, mas apenas acontece o dano, sopra um vento proveniente das duas colunas e as brechas se fecham e os furos se obturam.
     E explodem os canhões dos assaltantes, despedaçam-se os fuzis, e todas as outras armas e os esporões; destroem-se muitos navios e se afundam no mar. Então, os inimigos, furibundos, começam a combater com armas curtas; e com as mãos, com os punhos, com blasfêmias e com maldições.
     Quando eis que o Papa, ferido gravemente, cai, imediatamente, aqueles que estão junto com ele correm a ajudá-lo e o levantam. O Papa é ferido a segunda vez, cai de novo e morre. (6) Um grito de vitória e de alegria ressoa entre os inimigos; sobre os seus navios se dá um indizível tripudio. Eis que apenas morto o Pontífice, um outro Papa o substitui em seu posto. Os pilotos reunidos o elegeram tão subitamente que a notícia da morte do Papa chegou com a notícia da eleição do sucessor. Os adversários começam a perder a coragem.
     O novo Papa (7), dispersando e superando todo obstáculo, guia o navio até as duas colunas e, chegando junto a elas, o ata com uma pequena corrente que pendia da proa a uma âncora da coluna sobre a qual estava a Hóstia; e com uma outra pequena corrente que pendia da popa o prende do lado oposto a uma outra âncora, que pendia da coluna sobre a qual estava colocada a Virgem Imaculada.
     Então, aconteceu uma grande reviravolta. Todos os navios que até aquele ponto tinham combatido a nau sobre a qual governava o Papa fogem, se dispersam, se chocam e se destroçam mutuamente. Uns naufragam e procuram afundar os outros (8). Outras navezinhas que tinham combatido valorosamente com o Papa são as primeiras a virem a atar-se àquelas colunas. Muitas outras naus que, tendo-se retirado por temor da batalha. acham-se em grande distância, ficam prudentemente observando, até que, desaparecidos nos abismos do mar os restos de todos os navios destroçadas, com grande vigor vogam em direção daquelas duas colunas, onde, chegando, se prendem aos ganchos pendentes das mesmas colunas, e aí ficam tranqüilas e seguras, junto com a nau principal, sobre a qual está o Papa. No mar reina uma grande calma.'