DIFUNDIR OS BONS LIVROS - carta de São João Bosco



DIFUNDIR OS BONS LIVROS



Numa carta aos seus salesianos, Dom Bosco, sempre preocupado com o bem da juventude e do povo, recomenda vivamente a difusão dos bons livros.


Turim, 19 de março de 1885,
Festa de São José.

Caríssimos filhos em Jesus Cristo,
  
Deus é que sabe quão grande é o meu desejo de vê-los, estar com vocês, falar das nossas coisas, desfrutar a confiança que nos une os corações. Infelizmente, caríssimos filhos, minhas poucas forças, as seqüelas de velhas doenças, negócios urgentes que me chamam à França, impedem-me de secundar, ao menos por ora, os impulsos do afeto que tenho por vocês. Não podendo, então, visita-los pessoalmente, faço-o por carta, certo de que apreciarão a lembrança constante que guardo de vocês, que são minha esperança, minha glória e arrimo. Por isso, desejando vê-los crescer cada dia mais em zelo e merecimentos diante de Deus, não deixarei de sugerir-lhes, de quando em quando, os meios que julgo melhores para que o ministério de cada um se torne sempre mais frutuoso.
Um deles, que pretendo recomendar-lhes vivamente, para a glória de Deus e a salvação das almas, é a difusão dos bons livros. Não receio chamar divino a este meio. O mesmo Deus se valeu dele para regenerar o homem. Foram os livros inspirados que levaram ao mundo a verdadeira doutrina. Quis ele em que em todas as cidades e aldeias da Palestina houvesse suficiente quantidade de exemplares, e que fossem lidos todos os sábados nas assembléias religiosas. Eram, a principio, patrimônio exclusivo do povo judeu. Quando, porém, as tribos foram levadas em cativeiro à Assíria e à Caldeia, a Sagrada Escritura foi traduzida em língua sírio-caldaica, desta maneira toda a Ásia Central pôde te-la na própria língua. Ao prevalecer o poderio grego, os judeus plantaram colônias em todos os recantos da terra. Com elas, multiplicaram-se ao infinito os Livros Santos. Com sua versão os Setenta enriqueceram as bibliotecas dos povos pagãos. Desta maneira, oradores, poetas, filósofos da época colheram na Bíblia muitas verdades. Deus ia preparando o mundo para a vinda do Salvador, principalmente com seus livros inspirados.
Cabe a nós imitar a obra do Pai Celeste. Os livros bons, espalhados entre o povo, são um dos meios apropriados para manter o reino do Salvador em muitos corações. Os pensamentos,  os princípios, a moral de um livro católico são substância extraída dos livros divinos e da tradição apostólica. São tanto mais necessário na medida em que a impiedade e a imoralidade se servem dessa arma para destruir o rebanho de Cristo, para levar e arrastar à perdição os incautos e os desobedientes. Necessário se faz, pois, opor arma a arma. Acresce ainda que se o livro não tem a força viva da palavra, oferece, entretanto, em determinadas circunstancias, vantagens ainda maiores. Entra nas casas onde não pode entrar o sacerdote. Toleram-no os maus, como lembrança ou presente. Ao apresentar-se não enrubesce. Posto de lado,  não inquieta. Lido, ensina com calma a verdade. Desprezado, não se lamuria, mas semeia o remorso, que pode despertar o desejo de conhecer a verdade, sempre pronto a ensinar. Por vezes deixa-se ficar empoeirado numa mesa ou biblioteca, sem que ninguém se interesse por ele. Mas, ao sobreviver a hora da solidão, da tristeza, da dor, do tédio, da necessidade de lazer ou da preocupação para o futuro, este amigo fiel sacode o pó, abre as páginas, e se renovam as admiráveis conversões de Santo Agostinho, do Beato Columbano e de Santo Inácio. Compreensivo com os inibidos  pelo respeito humano, entretém-se com eles sem que ninguém perceba; para os bons é de casa, disposto sempre a dialogar; acompanha-os em qualquer momento ou lu8gar, Quantas pessoas foram salvas pelos livros bons, quantas preservadas do erro, encorajadas ao bem.Quem dá um livro bom, outro mérito não tivesse que ode despertar um bom pensamento, já muito mereceria diante de Deus. Entretanto, resultados ainda maiores se colhem. Se numa família o livro não for lido por aquele ao qual é destinado ou doado, sê-lo-á pelo filho ou pela filha, pelo amigo ou pelo vizinho. Um livro passa, às vezes, por dezenas de mãos. Só Deus conhece o vem que faz um bom livro em certos ambientes, numa biblioteca circulante, numa sociedade operária, num hospital, quando oferecido com prova de amizade. Não devemos recear que um livro não seja aceito só pelo fato de ser bom. Pelo contrário. Um nosso irmão de Congregação, sempre que ia ao porto de Marselha, levava provisão de bons livros para dá-los aos carregadores, aos estivadores, aos marinheiros. Pos bem, todos recebiam com alegria e gratidão esses livros, que algumas vezes eram logo lidos com viva curiosidade.
Postas estas observações, e deixando de lado muitas outras que vocês já conhecem, vou apontar-lhes os motivos pelos quais se devem empenhar com todas as forças e meios na difusão dos bons livros. Não só como católicos, mas especialmente como salesianos.
1. Foi este um dos principais empreendimentos que a Divina Providência me confiou. Todos sabem como nele me empenhei com incansável vigor, não obstante tantas outras ocupações. O ódio raivoso dos inimigos do bem, a perseguição contra minha pessoa provam que o erro vê nos bons livros um temível adversário, uma iniciativa de Deus.
2.  A admirável difusão desses livros é, com efeito, um argumento para provar a assistência especial de Deus. Em menos de trinta anos, montam a cerca de vinte milhões de fascículos ou volumes que difundimos entre o povo. Se algum livro foi posto de lado, outros terão tido uma centena de leitores cada um, e assim, o número de  pessoas às quais nossos livros fizeram bem pode ser avaliado com certeza muito maior que o de volumes publicados.
3.   A difusão dos bons livros e um dos fins principais da nossa Congregação. O artigo 7 do parágrafo primeiro das nossas Regras diz que os salesianos “se empenharão em difundir bons livros entre o povo, usando todos os meios que a caridade cristã inspirar. Procurarão, com palavras e escritos, erguer um dique contra a impiedade e a heresia que de tantas maneiras tenta insinuar-se entre os rudes e ignorantes. Para tal fim devem orientar-se as pregações que de tanto em tanto se fazem ao povo, os tríduos, as novenas e a difusão dos bons livros.”
4.  Entre os livros por divulgar, proponho escolher os que são tidos como bons, morais e religiosos, dando-se preferência às obras que saem das nossas tipografias, quer porque a vantagem material que se obtém transforma-se em caridade com a manutenção dos nossos meninos pobres, quer porque as nossas publicações tendem a formar um sistema ordenado, que abraça em vasta escala todas as classes da sociedade. Não me detenho neste ponto. Destaco, porém, com verdadeira complacência, uma classe apenas, a dos meninos, à qual procurei sempre fazer o bem, com a palavra viva e com a imprensa. Mediante as Leituras Católicas, além de instruir o povo, visava entrar nas casas, tornar conhecido o espírito reinante em nossos colégios e atrair os meninos à virtude, especialmente com as biografias de Sávio, Besucco e outros. Com o Jovem Instruído, queria leva-los à Igreja, instilar-lhes o espírito de piedade atrai-los à freqüência aos sacramentos. Pela coleção dos clássicos italianos e latinos expurgados, a História da Itália e outros livros históricos ou literários, desejei sentar-me ao lado deles na aula e preserva-los de tantos erros e paixões que lhes seriam fatais no tempo e na
eternidade. Desejava, com o tempo, ser-lher companheiro nas horas de recreio; planejei, então, uma série de livros amenos, que espero não tardem avir à luz. Com o Boletim Salesiano, finalmente, entre as muitas finalidades, tive também esta: manter vivo nos meninos que voltavam às suas famílias o amor ao espírito de S. Francisco de Sales e às suas máximas, e fazer deles próprios os salvadores de outros meninos. Não afirmo haver atingido perfeitamente meu ideal; digo-lhes, sim, que toca a vocês coordená-lo de modo que se complete em todas as suas partes.
Peço-lhes e esconjuro-os, pois, que não descuidem esta parte importantíssima da nossa missão. Comecem-na não só entre os meninos que a Providência nos confiou, mas, com a palavra e com o exemplo, façam deles outros tantos apóstolos da difusão dos bons livros.
No princípio do ano, os alunos, os novos sobretudo, se entusiasmam com a proposta de nossas assinaturas, tanto mais quanto vêem que se trata de quantia bem diminuta. Procurem, porém, que elas sejam espontâneas, de maneira alguma impostas. Com exortações convincentes, levam os jovens a serem assinantes, não só em vista do bem que os livros lhes farão, mas também com relação ao bem que podem fazer aos outros mandando-os para casa, ao pai, à mãe, aos irmãos, aos benfeitores, à medida que vão sendo publicados. Também os parentes pouco praticantes da religião se comovem à lembrança de um filho, de um irmão distante. Procurem, porém, que essas remessas não tomem nunca a aparência de sermão ou de lição aos parentes, mas sempre e somente de um carinhoso presente e de afetuosa lembrança. Quando em casa, presenteando-os aos amigos, emprestando-os aos parentes, dando-os com retribuição de um serviço, cedendo-os ao pároco para que os distribua, procurando novos assinantes, estarão aumentando o mérito das boas obras.
Convençam-se, meus filhos queridos, de que tais iniciativas haverão de atrair sobre vocês e nossos meninos as mais escolhidas bênçãos de Deus.
Vou terminar. Tirem vocês mesmos a conclusão desta carta, procurando que nossos jovens venham haurir os princípios morais e cristãos principalmente em nossas publicações, evitando desprezar os livres dos outros. Devo, porém, dizer-lhes que meu coração ficou magoado quando soube que em algumas das nossas Casas eram desconhecidas algumas vezes ou tidas em nenhuma conta as obras que editamos justamente para a juventude. Não amem nem façam com que outros amem aquela ciência que no dizer do Apóstolo inflat (incha).

Lembrem que santos Agostinho, já bispo, conquanto mestre exímio em letras e orador eloqüente, preferia as impropriedades de linguagem e a pouca elegância de estilo ao risco de não ser compreendido pelo povo.
A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre com vocês. Rezem por mim.

Muito afeiçoado em Jesus Cristo

João Bosco

A prática da mortificação cristã

A prática da mortificação cristã

 

 Livre-tradução do Artigo "La mortificación cristiana" do Cardeal Desidério José Mercier (1851-1926) publicado em "Cuadernos de La Reja" número 2 do Seminário Internacional Nossa Senhora Corredentora da FSSPX.

Nota: Todas as práticas de mortificação que reunimos aqui são recolhidas dos exemplos dos santos, especialmente Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Santa Teresa, São Francisco de Sales, São João Berchmans, ou são recomendadas por reconhecidos mestres da vida espiritual, como o Venerável Louis de Blois, Rodriguez, Scaramelli, Abade Allemand, Abade Hamon, Abade Dubois, etc.

A prática da mortificação cristã


Artigo 1 – Objeto da mortificação cristã

A mortificação cristã tem por fim neutralizar as influências malignas que o pecado original ainda exerce nas nossas almas, inclusive depois que o batismo as regenerou. Nossa regeneração em Cristo, ainda que anulou completamente o pecado em nós, nos deixa sem embargo muito longe da retidão e da paz originais. O Concílio de Trento reconhece que a concupiscência, ou seja, o triplo apetite da carne, dos olhos e do orgulho, se deixa sentir em nós, inclusive depois do batismo, afim de excitar-nos às gloriosas lutas da vida cristã (Conc. Trid., Sess. 5, Decretum de pecc. orig.).

A Escritura logo chama esta tripla concupiscência de "homem velho", oposto ao "homem novo" que é Jesus que vive em nós e nós mesmos que vivemos em Jesus, como "carne" ou natureza caída, oposta ao "espírito" ou natureza regenerada pela graça sobrenatural. Este velho homem ou esta carne, ou seja, o homem inteiro com sua dupla vida moral e física, deve ser, não digo aniquilado, porque é coisa impossível enquanto dure a vida presente, mas sim mortificado, ou seja, reduzido praticamente à impotência, à inércia e à esterilidade de um morto; há que impedir-lhe que dê seu fruto, que é o pecado, e anular sua ação em toda a nossa vida moral.

A mortificação cristã deve, portanto, abraçar o homem inteiro, estender-se a todas as esferas de atividade nas quais a natureza é capaz de mover-se. Tal é o objeto da virtude de mortificação. Vamos indicar sua prática, recorrendo sucessivamente as manifestações múltiplas de atividade em que se traduz em nós:

 I) A atividade orgânica ou a vida corporal;
II) A atividade sensível, que se exerce seja debaixo da forma do conhecimento sensível pelos sentidos exteriores ou pela imaginação, seja debaixo da forma de apetite sensível ou de paixão;
III) A atividade racional e livre, princípio de nossos pensamentos e de nossos juízos, e das determinações de nossa vontade;
IV) Consideraremos a manifestação exterior da vida de nossa alma, ou nossas ações exteriores;
V) E, finalmente, o intercâmbio de nossas relações com o próximo.



Artigo 2 – Exercício da mortificação cristã

A. Mortificação do corpo
1º Limite-se, tanto quanto possa, em matéria de alimentos, ao estritamente necessário. Medite estas palavras que Santo Agostinho dirigia a Deus: "Me ensinastes, oh meu Deus, a pegar os alimentos somente como remédios. Ah, Senhor!, aqui quem de entre nós não vai além do limite? Se há um só, declaro que este homem é grande e que deve grandemente glorificar vosso nome" (Confissões, liv. X, cap. 31);
2º Roga a Deus com frequência, roga-lhe a cada dia que lhe impeça, com Sua graça, de transpassar os limites da necessidade, ou deixar-se levar pelo atrativo do prazer;
3º Não pegue nada entre as refeições, ao menos que haja alguma necessidade ou razões de conveniência;
4º Pratique a abstinência e o jejum, mas pratique-os somente debaixo da obediência e com discrição;
5º Não lhe está proibido saborear alguma satisfação corporal, mas faça-o com uma intenção pura e bendizendo a Deus;
6º Regule seu sono, evitando nisto toda relaxação ou molície, sobretudo pela manhã. Se pode, fixe-se uma hora para deitar-se e levantar-se, e obrigue-se a ela energicamente;
7º Em geral, não descanse senão na medida do necessário; entregue-se generosamente ao trabalho, e não meça esforços e penas. Tenha cuidado para não extenuar seu corpo, mas guarde-se também de agradá-lo: quando sentir que ele está disposto a rebelar-se, por pouco que seja, trate-o como a um escravo;
8º Se sente alguma ligeira indisposição, evite irritar-se com os demais por seu mal humor; deixe aos seus irmãos o cuidado de queixar-se; pelo que lhe cabe, seja paciente e mudo como o divino Cordeiro que levou verdadeiramente todas as nossas enfermidades;
9º Guarde-se de pedir uma dispensa ou revogação à sua ordem do dia pelo mínimo mal-estar. "Há que fugir como da peste de toda dispensa em matéria de regras", escrevia São João Berchmans;
10º Receba docilmente, e suporte humilde, paciente e perseverantemente a mortificação penosa que se chama doença.


 

B. Mortificação dos sentidos, da imaginação e das paixões
1º Feche seus olhos, diante de tudo e sempre, a todo espetáculo perigoso, e inclusive tenha a valentia de fechá-los a todo espetáculo vão e inútil. Veja sem olhar; não se fixe em ninguém para discernir sua beleza ou feiúra;
2º Tenha seus ouvidos fechados às palavras bajuladoras, aos louvores, às seduções, aos maus conselhos, às maledicências, às zombarias que ferem, às indiscrições, à crítica malévola, às suspeitas comunicadas, a toda palavra que possa causar o menor esfriamento entre duas almas;
3º Se o sentido do olfato tem que sofrer algo por consequência de certas doenças ou debilidades do próximo, longe de queixar-se disso, suporte-o com uma santa alegria;
4º No que concerne à qualidade dos alimentos, seja muito respeitoso do conselho de Nosso Senhor: "Comei o que vos for apresentado". "Comer o que é bom sem comprazer-se nisto, o que é mau sem mostrar aversão, e mostrar-se indiferente tanto em um como no outro, esta é a verdadeira mortificação", dizia São Francisco de Sales;
5º Ofereça a Deus suas comidas, imponha-se na mesa uma pequena privação: por exemplo, negue-se um grão de sal, um copo de vinho, uma guloseima, etc.; os demais não o perceberão, mas Deus o terá em conta;
6º Se o que lhe apresentam excita vivamente seu atrativo, pense no fel e no vinagre que apresentaram a Nosso Senhor na cruz: isto não lhe impedirá de saborear o manjar, mas servirá de contrapeso ao prazer;
7º Há que evitar todo contato sensual, toda carícia em que se poria certa paixão, em que se buscaria ou onde se teria um gozo principalmente sensível;
8º Prescinda de ir aquecer-se ao menos que lhe seja necessário para evitar-lhe uma indisposição;
9º Suporte tudo o que aflige naturalmente a carne; especialmente o frio do inverno, o calor do verão, a dureza da cama e todas as incomodidades do gênero. Faça boa cara em todos os tempos, sorria a todas as temperaturas. Diga com o profeta: "Frio, calor, chuva, bendizei ao Senhor". Felizes se podemos chegar a dizer com gosto esta frase tão familiar a São Francisco de Sales: "Nunca estou melhor do que quando não estou bem";
10º Mortifique sua imaginação quando lhe seduz com a isca de um posto brilhante, quando se entristece com a perspectiva de um futuro sombrio, quando se irrita com a recordação de uma palavra ou de um ato que o ofendeu;
11º Se sente em você a necessidade de sonhar, mortifique-a sem piedade;
12º Mortifique-se com o maior cuidado sobre o ponto da impaciência, da irritação ou da ira;
13º Examine a fundo seus desejos, e submeta-os ao controle da razão e da fé: você não deseja mais uma vida longa que uma vida santa? prazer e bem-estar sem tristeza nem dores, vitórias sem combates, êxitos sem contrariedades, aplausos sem críticas, uma vida cômoda e tranquila sem cruzes de nenhum tipo, ou seja, uma vida completamente oposta à de nosso divino Salvador?
14º Tenha cuidado de não contrair certos costumes que, sem ser positivamente maus, podem chegar a ser funestos, tais como o costume de leituras frívolas, dos jogos de azar, etc.;
15º Trate de conhecer seu defeito dominante, e quando o tiver conhecido, persiga-o até suas últimas pregas. Por isso, submeta-se com boa vontade ao que poderia ter de monótono e de entediado na prática do exame particular;
16º Não lhe está proibido ter bom coração e mostrá-lo, mas fique atento para o perigo de exceder o justo meio. Combata energicamente os afetos demasiado naturais, as amizades particulares, e todas as sensibilidades moles do coração.


 C. Mortificação do espírito e da vontade
1º Mortifique seu espírito proibindo-lhe todas as imaginações vãs, todos os pensamentos inúteis ou alheios que fazem perder o tempo, dissipam a alma, e provocam o desgosto do trabalho e das coisas sérias;
2º Deve distanciar de seu espírito todo pensamento de tristeza e de inquietude. O pensamento do que poderá suceder no futuro não deve preocupá-lo. Quanto aos maus pensamentos que o molestam, deve fazer deles, distanciando-os, matéria para exercer a paciência. Se são involuntários, não serão para você senão uma ocasião de méritos;
3º Evite a teimosia em suas ideias, e a obstinação em seus sentimentos. Deixe prevalecer de boa vontade o juízo dos demais, salvo quando se trate de matérias em que você tem o dever de pronunciar-se e falar;
4º Mortifique o órgão natural de seu espírito, ou seja, a língua. Exerça-se de boa vontade no silêncio, seja porque sua Regra o prescreve, seja porque você o impõe espontaneamente;
5º Prefira escutar os demais do que falar você mesmo; mas, sem embargo, fale quando convenha, evitando tanto o excesso de falar demasiado, que impede os demais expressar seus pensamentos, como o de falar demasiado pouco, que denota indiferença que fere ao que dizem os demais;
6º Não interrompa nunca quem fala, e não corte com uma resposta precipitada quem lhe pergunta;
7º Tenha um tom de voz sempre moderado, nunca brusco nem cortante. Evite os "muito", os "extremamente", os "horrivelmente", etc.: não seja exagerado em seu falar;
8º Ame a simplicidade e a retidão. A simulação, os rodeios, os equívocos calculados que certas pessoas piedosas se permitem sem escrúpulo, desacreditam muito a piedade;
9º Abstenha-se cuidadosamente de toda palavra grosseira, trivial ou inclusive ociosa, pois Nosso Senhor nos adverte que nos pedirá conta delas no dia do Juízo;
10º Acima de tudo, mortifique sua vontade; é o ponto decisivo. Adapte-a constantemente ao que sabe ser do beneplácito divino e da ordem da Providência, sem ter nenhuma conta nem de seus gostos nem de suas aversões. Submeta-se inclusive a seus inferiores nas coisas que não interessam para a glória de Deus e os deveres de seu cargo;
11º Considere a menor desobediência às ordens e inclusive aos desejos de seus Superiores como dirigida a Deus;
12º Lembre-se de que praticará a maior de todas as mortificações quando ame ser humilhado e quando tenha a mais perfeita obediência àqueles a quem Deus quer se se submeta;
13º Ame ser esquecido e ser tido por nada: é o conselho de São João da Cruz, é o conselho da Imitação: não fale apenas de si mesmo nem para bem nem para mal, senão busque pelo silêncio fazer-se esquecer;
14º Diante de uma humilhação ou repreensão, se sente tentado a murmurar. Diga como Davi: "Melhor assim! Me é bom ser humilhado!";
15º Não entretenha desejos frívolos: "Desejo poucas coisas, e o pouco que desejo, o desejo pouco", dizia São Francisco;
16º Aceite com a mais perfeita resignação as mortificações chamadas de Providência, as cruzes e os trabalhos unidos ao estado em que a Providência o pôs. "Quanto menos há de nossa eleição, mais há de beneplácito divino", dizia São Francisco de Sales. Queríamos escolher nossas cruzes, ter outra distinta da nossa, levar uma cruz pesada que tivesse ao menos algum brilho, antes que uma cruz ligeira que cansa por sua continuidade: Ilusão! Devemos levar nossa cruz, e não outra, e seu mérito não se encontra em sua qualidade, senão na perfeição com que a levamos;
17º Não se deixe turbar pelas tentações, pelos escrúpulos, pelas aridezes espirituais: "o que se faz durante a sequidão é mais meritório diante de Deus do que o que se faz durante a consolação", dizia o santo bispo de Genebra;
18º Não devemos entristecer-nos demasiado por nossas misérias, senão mais bem humilhar-nos. Humilhar-se é uma coisa boa, que poucas pessoas compreendem; inquietar-se e impacientar-se é uma coisa que todo o mundo conhece e que é má, porque nesta espécie de inquietude e de despeito o amor próprio tem sempre a maior parte;
19º Desconfiemos igualmente da timidez e do desânimo, que fazem perder as energias, e da presunção, que não é mais do que o orgulho em ação. Trabalhemos como se tudo dependesse de nossos esforços, mas permaneçamos humildes como se nosso trabalho fosse inútil.

D. Mortificações que há que praticar em nossas ações exteriores
1º Deve ser o mais exato possível em observar todos os pontos de sua regra de vida, obedecer sem demora, lembrando-se de São João Berchmans, que dizia: "Minha maior penitência é seguir a vida comum"; "Fazer o maior caso das menores coisas, tal é o meu lema"; "Antes morrer que violar uma só de minhas regras!";
2º No exercício de seus deveres de estado, trate de estar muito contente com tudo o que parece feito de propósito para desagradá-lo e molestá-lo, lembrando-se também aqui da frase de São Francisco de Sales: "Nunca estou melhor quando não estou bem";
3º Não conceda jamais um momento à preguiça; da manhã à noite, esteja ocupado sem descanso;
4º Se sua vida se passa dedicada, ao menos em partes, ao estudo, aplique os seguintes conselhos de Santo Tomás de Aquino aos seus alunos: "Não se contentem com receber superficialmente o que lêem ou escutam, senão tratem de penetrar e aprofundar seu sentido. – Não fiquem nunca com dúvidas sobre o que podem saber com certeza. – Trabalhem com uma santa avidez em enriquecer seu espírito; classifiquem com ordem em sua memória todos os conhecimentos que possa adquirir. – Sem embargo, não tratem de penetrar os mistérios que estão por acima de sua inteligência";
5º Ocupe-se unicamente da ação presente, sem voltar ao que precedeu nem adiantar-se pelo pensamento ao que vem a seguir; diga com São Francisco: "Enquanto faço isto, não estou obrigado a fazer outra coisa"; "Apressemo-nos com bondade: será tão logo tanto quanto esteja bom";
6º Seja modesto em sua compostura. Nenhum porte era tão perfeito como o de São Francisco; tinha sempre a cabeça direita, evitando igualmente a ligeireza que a gira em todos os sentidos, a negligência que a inclina adiante e o humor orgulhoso e altivo que a levanta para trás. Seu rosto estava sempre tranquilo, livre de toda preocupação, sempre alegre, sereno e aberto, sem ter sem embargo uma jovialidade indiscreta, sem risadas ruidosas, imoderadas ou demasiado frequentes;
7º Quando se encontrava só mantinha-se em tão boa compostura como diante de uma grande assembleia. Não cruzava as pernas, não apoiava a cabeça no encosto. Quando rezava, ficava imóvel como uma coluna. Quando a natureza lhe sugeria seus gostos, não a escutava em absoluto;
8º Considere a limpeza e a ordem como uma virtude, e a sujeira e a desordem como um vício: evite os vestidos sujos, manchados ou rasgados. Por outra parte, considere como um vício ainda maior o luxo e o mundanismo. Faça de modo de ao ver sua vestimenta e adereços, ninguém diga: está desarrumado; nem: está elegante; senão que todo o mundo possa dizer: está decente.

E. Mortificações para praticar em nossas relações com o próximo
1º Suporte os defeitos do próximo: faltas de educação, de espírito, de caráter. Suporte tudo o que nele lhe desagrada: seu modo de andar, sua atitude, seu tom de voz, seu sotaque, e todo o resto;
2º Suporte tudo a todos e suporte até o fim e cristãmente. Não se deixe levar jamais por essas impaciências tão orgulhosas que fazem dizer: Que posso fazer de tal o qual? Em que me concerne o que diz? Para que preciso o afeto, a benevolência ou a cortesia de uma criatura qualquer, e desta em particular? Nada é menos segundo Deus que estes desprendimentos altaneiros e estas indiferenças depreciativas; melhor seria, certamente, uma impaciência;
3º Encontra-se tentado a irar-se? Pelo amor a Jesus, seja manso. De vingar-se? Devolva bem por mal. Diz-se que o segredo de chegar ao coração de Santa Teresa, era fazer-lhe algum mal. De mostrar a alguém uma cara má? Sorria com bondade. De evitar seu encontro? Busque-o por virtude. De falar mal dele? Fale bem. De falar-lhe com dureza? Fale doce e cordialmente;
4º Ame fazer o elogio de seus irmãos, sobretudo daqueles a quem sua inveja se dirige mais naturalmente;
5º Não diga acuidades em detrimento da caridade;
6º Se alguém se permite em sua presença palavras pouco convenientes, ou mantém conversações próprias para danificar a reputação do próximo, poderá às vezes repreender com doçura a quem fala, mas mais frequentemente será melhor distanciar habilmente a conversação ou manifestar por um gesto de descontentamento ou de desatenção querida que o que se está dizendo o desagrada;
7º Quando lhe custe fazer um favor, ofereça-se a fazê-lo: terá duplo mérito;
8º Tenha horror de apresentar-se diante de si mesmo ou dos demais como uma vítima. Longe de exagerar suas cargas, esforce-se em encontrá-las leves. O são em realidade muito mais frequentemente do que parece, e o seriam sempre se tivesse um pouco mais de virtude.

Conclusão

Em geral, saiba negar à natureza o que pede sem necessidade.
Saiba fazer-lhe dar o que ela nega sem razão. Seus progressos na virtude, disse o autor da Imitação de Cristo, serão proporcionais à violência que saiba fazer-se.


  Dizia o santo Bispo de Genebra: "Há que morrer afim de que Deus viva em nós: porque é impossível chegar à união da alma com Deus por outro caminho que pela mortificação. Estas palavras: Há que morrer! são duras, mas serão seguidas de uma grande doçura, porque não se morre a si mesmo senão para unir-se a Deus por esta morte".
Quisera Deus que pudéssemos aplicar-nos com pleno direito as seguintes palavras de São Paulo: "Em todas as coisas sofremos a tribulação… Trazemos sempre em nosso corpo a morte de Jesus, afim de que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos" (2 Cor. 4, 10).


Fonte: http://www.fsspx.com.br/exe2/?p=1822

Fevereiro é o mês dedicado à Sagrada Família

Fevereiro é o mês dedicado à Sagrada Família 
Começa a Quaresma! É um tempo da penitência e do luto. 
Lembrete: este mês temos as Têmporas da Quaresma. 
Leia mais abaixo sobre Quaresma, Jejum, e Têmporas.  
 
Oratio in honorem Sanctae Familiae

DOMINE Iesu Christe, qui Mariae et Ioseph subditus,
domesticam vitam ineffabilibus virtutibus consecrasti:
fac nos, utriusque auxilio, Familae sanctae tuae exemplis
instrui et consortium consequi sempiternum:
Qui vivis et regnas in saecula saeculorum. Amen.



Fevereiro 2015
Mês consagrado à Sagrada Família
DOMINGO
SEGUNDA
TERÇA
QUARTA
QUINTA
SEXTA
SÁBADO
1
2
3
4
5
6
7
ABSTINÊNCIA
Tempo da Septuagésima
Domingo da Septuagésima
Purificação da B.V. Maria 

Nª Sª da Candelária 


Benção das Velas
S. Brás, Bispo e Mártir * 
S. André Corsini, Bispo e Confessor. * 
Sta. Águeda (ou Ágata), Virgem e Mártir *  
S. Tito, Bispo e Confessor.  *
Sta. Doroteia, Virgem Mártir * 
S. Romualdo, Abade * 
8
9
10
11
12
13
14
ABSTINÊNCIA
Tempo da Septuagésima
Domingo da Sexagésima
S. Cirilo de Alexandria, Bispo, Confessor e Doutor  *
Sta. Apolônia, Virgem e Mártir *
Sta. Escolástica, Virgem *
Aparição de Nª Senhora em Lourdes *
Ss. Sete Fundadores dos Servitas de Maria, Confessores *
S. João de Brito, Mártir *
S. Valentim, Presbítero e Mártir *
15
16
17
18
19
20
21
JEJUM E ABSTIN.
JEJUM
JEJUM E ABSTIN.
JEJUM
Tempo da Septuagésima
Tempo da Quaresma
Domingo da Quinquagésima
Féria
Féria
CINZAS
Féria
Féria
Féria
22
23
24
25
26
27
28
JEJUM
JEJUM
JEJUM E ABSTIN.
JEJUM
JEJUM E ABSTIN.
JEJUM E ABSTIN.
Tempo da Quaresma
1º Domingo da Quaresma
S Pedro Damião, B., Conf.e Dr.  *
Vigília de S. Matias, Ap.
S. Matias, Apóstolo *
TÊMPORAS  *

Féria
Féria
TÊMPORAS *

S. Gabriel de Nª Senhora das Dores, Confessor *
TÊMPORAS *

Féria
  1. Em AZUL, os dias de ABSTINÊNCIA e os avisos necessários. Este mês também os dias de JEJUM.  
  2. Festas de 1ª Classe em VERMELHO.
  3. Alguns Santos e Festas já foram publicados no PALE IDEAS, e iremos atualizar o calendário litúrgico no menu superior. Os Santos e Festas que ainda não foram publicados podem vir as ser no correr do mês e serão marcados com * e os links correspondentes passarão a funcionar a partir da data em que se comemoram. Tentaremos linkar todos os santos.
  4. O Martirológio que seguimos é o de 1956, sem as inovações do Concílio Vaticano II, que excluiu  alguns Santos e Festas.