Profecias da Beata Anna Catharina Emmerick


Beata Anna Catharina Emmerick- Alemanha (1774- 1824)

     "Vejo mais mártires, não agora, mas no futuro. Eu vi a seita secreta [maçonaria] implacavelmente minando a grande Igreja. Perto deles eu vi um monstro horrível chegar a partir do mar. Em todo o mundo, pessoas devotas e boas, especialmente o clero, foram perseguidas, oprimidas e colocados na prisão. Eu tive a impressão de que eles iriam se tornar mártires um dia. Quando a Igreja tiver sido em grande parte destruída pela seita secreta, e quando apenas o santuário e o altar estiverem de pé, eu vi os destruidores entrarem na Igreja com a Besta. Lá, eles se encontraram com uma mulher com uma nobre carruagem, que parecia estar com uma criança, porque ela caminhava lentamente. Nessa visão, os inimigos estavam aterrorizados, e a Besta não podia parar de prosseguir. E projeta seu pescoço sobre a mulher como se fosse devorá-la. Mas a mulher virou e curvou-se (para o altar), sua cabeça tocava o chão. Então eu vi a Besta, fugindo para o mar novamente e os inimigos estavam fugindo na maior confusão. Então, eu vi ao longe grandes legiões se aproximando. Em primeiro plano, vi um homem em um cavalo branco. Presos foram soltos e se juntaram. Todos os inimigos foram perseguidos. Então, eu vi que a Igreja estava sendo prontamente reconstruída, e ela era mais magnífica do que nunca . "
Aventurada (BEATA) Anna-Katharina Emmerich, 13 de maio de 1820.
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Ana Catalina Emmerich nasceu na Alemanha em 1774, oriunda de família muito pobre, e fez-se monja na Ordem Agostiniana na cidade de Dulmen. Teve a vida marcada por contínuas doenças, ainda agravadas ao ficar inválida devido a um acidente. Já se valia do uso de discernimentos especiais desde seu nascimento, assim como podia compreender o latim litúrgico desde a primeira vez que fora à Missa. A freira – hoje, com milagres alcançados por seu intermédio reconhecidos pelo Vaticano – foi recentemente (03 de outubro de 2004) beatificada pelo Papa João Paulo II em Roma.
     Quando criança, a própria afirmava – e o faria até sua morte – que via com freqüência seu anjo da guarda, assim como tinha o Menino Jesus como colega de brincadeiras. Durante os últimos 12 anos de sua vida nada comia, exceto a Sagrada Eucaristia; nem bebia, exceto água – subsistindo totalmente por meio da Santa Comunhão. Desde 1802 até sua morte adquirira as chagas da Coroa de Espinhos – instrumento de tortura aplicado a Jesus Cristo, durante sua paixão -, e, em 1812, todos os estigmas de Cristo, inclusive uma cruz sobre seu coração, além da ferida da lança ao lado. Emmerich era vista freqüentemente levitando quando em êxtase, e ainda possuía o dom impressionante da clarividência apenas ao toque de qualquer objeto que lhe fosse apresentado.
     Em seus últimos anos, até sua morte em 1824, a freira recebia visões de cenas ambientadas na Pré-História, da vida de personagens do Antigo Testamento – incluindo Adão e Eva, Noé, Sansão e os profetas -, assim como de Cristo, da Virgem Maria, dos apóstolos e primeiros mártires, e da vida após a morte, bem como outras vidências de fatos que se concretizariam tempos depois, como a construção do Muro de Berlim, o Concílio Vaticano II, etc. Com as anotações de suas visões em mão, descobriu Reynolds os restos da cidade de Uhr na Caldéia. E a recém-descoberta morada da Virgem Maria em Éfeso resultara também ser, exatamente, onde e tal qual a monja havia descrito – por fora e por dentro. E também foi confirmada a presença de uma “reprodução ao natural” da via crucis, ao longo de um caminho próximo à morada, montada pela própria mãe de Jesus – o que a monja já havia relatado por volta de 100 anos antes de tal verificação. Isto vinha sendo um dado, até então, totalmente ignorado no mundo cristão, após a antiguidade.

 

A CRISE UNIVERSAL
"Quando alcanço um país, vejo com mais freqüência sua capital, como num ponto central – o estado panorâmico deste país sob forma de noite, de bruma, de frio; vejo também, de muito perto, as sedes principais da perdição; compreendo tudo e posso contemplar cenas onde estão os maiores perigos. Destes focos de corrupção, vejo escoamentos e pântanos estenderem-se através do país como canais envenenados ao que, no meio de tudo isto, há gente piedosa em oração, há igrejas – onde repousa o Santo Sacramento -, há corpos inumeráveis de santos e bem-aventurados, há todas as obras de virtude, de humildade, de fé; e estas exercem uma ação que sufoca, apazigua, detêm o mal, e que ajuda onde se roga. A seguir, tenho visões onde tanto os ímpios como os bons passam ante meus olhos. (AA.II.408)
Vejo rondar sobre certos lugares e certas cidades, aparições horríveis que fazem ameaças com grandes perigos ou, inclusive, com uma destruição total. Vejo tais lugares derrubarem-se, de alguma maneira, à noite: n’outras, vejo o sangue correr a rios em batalhas suspensas no ar, nas nuvens. (AA.II.408)
     E, sobre estes perigos, estes castigos, não os vejo como fatos isolados, mas como conseqüência do que ocorre em outros lugares: onde o pecado gera violência e combates corporais; e vejo o pecado se transformar na vara que açoita os culpados. (AA.II.409)
     Atravessava a vinha (a diocese) de São Ludger (Munique), onde encontrei tudo debaixo de grande sofrimento, como anteriormente, e passei pela vinha de São Liboire (Paderborn), onde trabalhei por último, e a encontrei em vias de melhora. Passei pelo lugar (Praga) onde repousam São João Nepomuceno, São Venceslau, Santa Ludmila e outros santos. Tinham muitos santos, mas, entre os vivos, poucos sacerdotes piedosos, e me parecia que as pessoas boas e piedosas se mantinham escondidas com freqüência. Ia sempre na direção do meio-dia (depois desta subida, a nordeste), e passava adiante da grande cidade (Viena) que domina uma alta torre, e ao redor da qual há muitas avenidas e bairros. Deixava esta cidade à esquerda e atravessei uma região de altas montanhas (os Alpes austríacos onde ainda tinha, aqui e ali, muita gente piedosa, especialmente entre aqueles que viviam dispersos: depois, indo sempre para o meio dia, cheguei à vila marítima (Veneza) onde vi, recentemente, a São Inácio e seus colegas. Vi aí também grande uma corrupção (pela cidade): São Marcos e outros santos estavam presentes. Ia pela vinha de Santo Ambrósio (a diocese de Milão). Lembro-me de muitas visões e de graças obtidas pela intercessão de Santo Ambrósio, sobretudo pela ação exercida por Santo Agostinho. Aprendi muitas coisas sobre ele e, dentre outras, que tinha conhecido uma pessoa que tinha, num verdadeiro grau, o dom de reconhecer relíquias. Tive visões a propósito desse assunto e creio que ele falou sobre isso num de seus escritos…
    Cheguei à casa de São Pedro e São Paulo (Roma) e vi um mundo tenebroso, cheio de angústia, de confusão e corrupção… vi nesta cidade terríveis ameaças vindas do norte. Partindo daí, atravessei as águas (o Mediterrâneo), atingindo as ilhas onde há uma mistura do bem e do mal, e constatei que os mais isolados eram os mais felizes – e os mais luminosos: depois fui à pátria de Francisco Xavier (Espanha), visto que eu viajava na direção do poente. Vi ali numerosos santos e o país ocupado por soldados vermelhos. (AA.II.411)"

SOBRE O FUTURO DA IGREJA CATOLICA:

    "
Vi à Igreja de São Pedro e a uma grande multidão de homens afanados em destruí-la, enquanto outros trabalhavam em restaurá-la. Os trabalhadores estavam espalhados por todo mundo e me admirava a conformidade de seus trabalhos. Os obreiros que tratavam de destruir o templo, arrancavam pedaços do mesmo; entre estes distingui a muitos hereges e apóstatas. Trabalhavam de acordo a certas regras os que levavam mantos brancos, com bolsos, bordados com faixas azuis e planas sujeitas à cintura. Estavam vestidos com toda classe de trajes; entre eles tinha homens altos e corpulentos, com uniformes e estrelas; mas estes não trabalhavam, senão que indicavam nos muros, com a plana, onde e como tinham de demolir.
     Vi com espanto que entre eles tinha sacerdotes católicos. Às vezes, quando não sabiam como demolir, acercavam-se a um dos seus, que tinha um grande livro, no qual parece que estava indicado como estava feito o edifício e a maneira de derrubá-lo. Depois assinalavam com a plana uma parte dele, para que fora destruída, a qual, efetivamente se derrubava. Os que derrubavam o edifício faziam calma e seguramente, mas com timidez, secretamente, postos como em espreita.
    Vi ao Papa em oração rodeado de falsos amigos, que muitas vezes faziam o contrário do que se lhes mandava. Vi a um homem malvado, negro e de baixa estatura, trabalhar muito ativamente contra a Igreja. Enquanto o templo era destruído por estes em alguma parte, reedificando outros por outra parte, mas sem energia nem vigor. Vi também muitos eclesiásticos a quem conhecia entre eles o Vigário Geral, cuja vista me causou muita alegria. Passou sem turvar-se por entre os demolidores e dispôs o necessário para a conservação e restauração do templo.
    Vi também a meu confessor levar uma grande pedra, dando um bom rodeio. Vi outros sacerdotes, preguiçosos, rezar as horas com seu breviário e levar, muito de vez em quando, alguma pedrinha sob os hábitos ou alongar-se a outros. Parecia que nenhum tinha confiança nem gosto no trabalho, já que trabalhavam sem direção e sem saber o que faziam.
   Aquilo era aflitivo. Já estava destruída a parte anterior da Igreja e não ficava em pé mais do que o Sacrário. Eu estava muito triste, pensando onde se acharia aquele homem com veste vermelha e bandeira branca, que se me tinha representado outras vezes sobre a mesma Igreja, salvando-a da destruição."

2. A Santíssima Virgem protege a Igreja.

"Então vi a uma grande Senhora, cheia de majestade, que vinha pela grande vaga que há adiante do templo. Tinha um manto estendido, sujeito com ambos os braços e se movia impassivelmente no ar. Deteve-se no alto da cúpula e estendeu seu manto, que brilhava como o ouro, sobretudo o recinto da igreja.
    Os demolidores deixaram de trabalhar naquele momento. Quiseram prosseguir sua obra de destruição, mas não puderam acercar-se ao espaço protegido pelo largo manto. Enquanto os que trabalham em reedificar a igreja, mostravam extraordinária atividade. Vieram muitos homens escuros, anciões e impedidos e muitos jovens vigorosos; mulheres e meninos, sacerdotes e seculares, e muito cedo esteve quase do tudo restaurada a Igreja.

     Vi então vir um novo pontífice em procissão. O Papa era bem mais jovem e enérgico que o anterior. Foi recebido com grande solenidade. Parecia que ia consagrar a igreja, mas ouvi uma voz que dizia que o templo não precisava nova consagração, pois a parte principal dele, o tabernáculo, não tinha sido destruída. Devia celebrar-se uma dupla festa em toda a Igreja: um jubileu universal e a restauração da Igreja.
  Antes que o Papa começasse a festa que tinha preparado aos seus e estes lançaram da assembléia, sem contradição nenhuma, a uma multidão de eclesiásticos, uns de elevado poder, outros de pouca significação, os quais saíram murmurando, cheios de cólera. O Pontífice tomou ao seu serviço a outros eclesiásticos e a outros seculares. Depois começou a grande solenidade na Igreja de São Pedro. Os que trabalhavam com mantos brancos mantiveram-se silenciosos, circunspetos e tímidos, olhando se algum os observava."

3. O Arcanjo São Miguel luta pelo Triunfo da Igreja. (30 de dezembro de 1819)
"Vi novamente a Igreja de São Pedro com sua grande cúpula. Sobre ela resplandecia o Arcângelo São Miguel vestido de cor vermelha, tendo uma grande bandeira de combate nas mãos. A terra era um imenso campo de batalha. Os verdes e azuis lutavam contra os brancos e estes sobre os quais havia uma espada de fogo parecia que iam sucumbir; nem todos sabiam por que causa combatiam.
     A Igreja era de cor sangrenta como o vestido do Arcanjo. Ouvi que me diziam: “Terás um batismo de sangue” . Quanto mais se prolongava o combate, mais se apagava a viva cor vermelho da Igreja e se voltava mais transparente. O Arcanjo desceu e se acercou aos alvos. O vi adiante de todos. Estes cobraram grande valor, sem saber de onde lhes vinha.
  O Anjo derrotou aos inimigos, os quais fugiram em todas as direções. A espada de fogo que estava sobre os alvos, desapareceu. No meio do combate aumentavam as filas dos alvos: grupos de adversários passavam a eles e uma vez passaram em grande número. Sobre o campo de batalha tinha no espaço, legiões de santos que faziam sinais com as mãos, diferentes uns de outros, mas animados do mesmo espírito."
 
 4. Vê a São Francisco de Assis e Santa Juana de Chantal. (Domingo de infra oitava da Santíssima Trinidade, 1820)

   "Para consolo meu vi quadros da vida dos dois santos: São Francisco de Sais e Santa Juana de Chantal. Diziam que os tempos que corremos são muito tristes; mas que depois de muitos desastres, virá um tempo suave e aprazível, em que os homens estarão muito unidos uns com outros e se amarão muito; então florescerão muitos mosteiros no verdadeiro sentido da palavra. Vi também uma imagem destes longínquos tempos, a qual não posso descrever; daí se afastavam as trevas da noite e surgiam a luz e o amor. Vi toda classe de quadros relativos ao Renascimento das ordens religiosas.
   Os tempos do Anticristo não estão tão próximos como alguns crêem. Têm de vir precursores do mesmo. Vi em algumas cidades mestres de cujas escolas poderão sair esses precursores."

5. Vê a Igreja de São Pedro em perigo. (28 de agosto de 1820)
     "Vi uma imagem da Igreja de São Pedro, onde me parecia que o tempo boiava sobre a terra e que muitos corriam pressurosos a pôr-se embaixo dele para transportá-lo, grandes e pequenos, sacerdotes e seculares, mulheres e meninos e ainda anciões impedidos. Eu sentia grande angústia e inquietude, pois estava vendo que a igreja ameaçava ruínas por todas as partes. Mas todas aquelas gentes se puseram embaixo dela sustentando-a com seus ombros; quando isto o faziam, todos tinham a mesma estatura.
    Cada um estava em seu posto: os sacerdotes embaixo dos altares; os leigos embaixo das colunas e as mulheres à entrada. Era tão grande o peso que todos suportavam que cri que seriam esmagados. Sobre a Igreja aparecia o céu aberto e os coros dos santos a sustentavam com suas orações e seus méritos e ajudavam aos que a sustentavam sobre seus ombros. Eu estava flutuando entre uns e outros. Vi que os que a levavam se moviam para diante e que uma fila de casas e palácios que havia defronte caíam por terra, como as espigas de um campo, ao passar sobre eles a igreja e que a mesma igreja foi posta ali sobre a terra.
    Então tive outra visão. Vi que a Santíssima Virgem estava sobre a Igreja e ao redor dela os apóstolos e bispos. Abaixo vi grandes procissões e solenidades. Vi que todos os maus pastores da igreja, que tinham crido que podiam fazer algo com suas próprias forças, sem receber a virtude de Cristo, dos copos de seus santos predecessores e da igreja, foram lançados e substituídos por outros. Vi que desde o alto recebiam bênçãos e que se faziam grandes mudanças. Vi ao Papa que dirigia todas estas coisas. Vi elevar-se a dignidades, a homens muito pobres e a jovens."
 
6. Vê uma Igreja falsa na contramão da Igreja de Roma. (12 de setembro de 1820)

    "Vi construir uma igreja curiosa, falsa e perversa. Tinha no coro três divisões, cada uma de várias arquibancadas, umas mais altas do que as outras. Embaixo se estendia uma escura extensão cheia de trevas. Sobre a primeira destas divisões vi que arrastavam um assento, na segunda uma grande xícara cheia de água; sobre a mais alta tinha uma mesa. Não vi nenhum anjo presente na construção; mas estava a espécie mais ardente e curiosa de múltiplos espíritos imundos, destes que pesteiam os ares, que transportavam toda classe de objetos que depositavam debaixo daquele teto, e ali abaixo, certas pessoas envoltas numa espécie de mantas ou capas eclesiásticas, levavam todas essas coisas afora.
     Nada vinha do alto naquela igreja; tudo provia da terra e da escuridão, e os espíritos imundos o traziam e preparavam tudo. Só a água parecia ter em si mesma força saudável e em certo modo santificante. Vi trazer depois para dentro dessa igreja uma grande quantidade de instrumentos. Muitas pessoas e também meninos levavam utensílios e instrumentos da mais variada espécie para fazer e produzir alguma coisa; mas tudo era escuro, pervertido, privado de vitalidade e não se via mais do que separação e divisão.
    Perto desta vi outra igreja luminosa, plena de graças do alto; vi aos anjos subir e descer e vi ali vida e crescimento, ainda que também dissipação e negligência. Apesar de tudo era uma árvore cheia de seiva e de força vital em comparação da pseudo-igreja, que parecia um sarcófago de relíquias mortas e de figuras. Uma igreja era como uma ave que voa e se remonta nos ares; a outra como um barrilete feito de papel pelos meninos, cheio de nodos, de enfeites e de bocados de papel de cores na fila, que se arrasta sobre um campo árido talher de estopa, em vez de remontar-se aos ares.
    Tenho visto que muitas das coisas reunidas naquela igreja estavam amontoadas na contramão da igreja vivente: assim vi dardos e flechas. Cada um se empenhava em levar aí dentro alguma coisa, como bengalas, varas, pompas de água, garrotes de toda classe, bonecos e espelhos. Ali tinha trombetas, chifres, foles e toda classe de objetos de toda classe e maneira. Sob a abóbada da sacristia se afanavam por fazer pão; mas não fermentou e ficou tudo abandonado. Vi àqueles homens com as mantas levar lenha adiante das arquibancadas sobre as quais estava o púlpito e acender fogo e soprar com os foles e com a boca e afanar-se muito; mas não saía de ali mais do que fumaça de uma escuridão horrível.
   Então fizeram uma abertura por acima e colocaram um tubo; mas aquele fogo não quis prender e se fez tão denso de fumaça que terminou por sufocar. Outros sopravam nas trombetas e clarines e se esforçavam de tal modo que parecia lhes saíam aos olhos pelas órbitas; mas tudo ficou ali abandonado no solo e depois desapareceu sob terra; de maneira que tudo era morto e fictício e vã obra humana.
   Esta igreja é em verdade feita pelos homens, em conformidade com a nova moda, como o é a nova igreja, não católica, de Roma, que é também dessa espécie."
 
7. Vê a obra dos espíritos maus na falsa igreja. (12 de novembro de 1820)
    "Viajei por um país escuro e frio e cheguei a uma grande cidade. Ali dentro vi de novo a estranha grande fábrica da igreja; mas tenho visto que ali não há nada de santo, senão inumeráveis espíritos planetários (segundo Ana, estes são espíritos imundos, provenientes das classes mais baixas de anjos e de pouco poder, não tão culpados pela queda) que trabalhavam em torno dela. Vi tudo isto como se fosse real, de modo parecido, fazer-se uma obra eclesiástica católica de comum acordo entre os anjos, os santos e os cristãos; mas aqui as formas empregadas eram mecânicas, e as ajudas e os meios de outra espécie.
    Vi subir e baixar e enviar raios e luz por muitos espíritos planetários cobre aquela gente que trabalhava. Tudo se fazia e resultava segundo a pura razão humana. Vi lá acima, nas altas regiões, como um espírito fazia linhas e desenhava figuras e como depois aqui na terra se executava, porque via que um abria os alicerces e fazia aberturas ou planos. Tenho visto que a ação destes espíritos planetários, que trabalham para si e para essa grande fábrica, como estendiam seu influxo maléfico às mais remotas comarcas.
    Tudo aquilo que parecia necessário ou só útil à fabricação e existência desta igreja, vi excitá-lo e pô-lo por obra nos mais apartados lugares e distâncias e vi porem-se de acordo homens e coisas, ensinos e opiniões para cooperar à esta obra. Tinha em todo esse quadro um pouco de admiravelmente egoístico, de orgulhosamente seguro e violento; e que tudo teve sucesso o vi num quadro múltiplo de coisas; mas não vi sequer um só anjo ou um santo coincidindo à obra. O quadro que vi era grandioso e perverso.
     Vi também bem mais longe e por trás daquele assento ou trono, um povo feroz armado de picaretas, e um rosto feio que sorria e dizia: “fabrica do modo mais sólido que puderes; nós a destruiremos”. Penetrei ademais numa sala grande daquela cidade onde se celebrava uma cerimônia odiosa, uma horrível e falsa comédia. Tudo estava pintado de negro. Um foi posto dentro de um caixão e depois ressuscitou.
   Ele estava presente em pessoa e levava no peito uma estrela. Parecia que isto significava uma ameaça de que assim sucederia. Vi dentro ao diabo em mil formas e figuras. Tudo era densa e escura noite: aquilo era horrível.


8. Vê novamente a igreja de São Pedro. (10 de setembro de 1822)

Vi a Igreja de São Pedro do tudo destruída, exceto o coro e o altar maior. São Miguel, armado e cingido, desceu à Igreja e com sua espada impediu que entrassem nela muitos maus pastores, e os impeliu para um ângulo escuro, onde se sentaram olhando-se uns a outros. Tudo o que tinha sido destruído da igreja foi reconstruído em poucos momentos de sorte que pudesse celebrar-se o culto divino. Vieram sacerdotes e leigos de todo mundo trazendo pedras para reedificar os muros, já que os alicerces não tinham podido ser destruídos pelos demolidores.

9. Vê em êxtase à Igreja abandonada e afligida.

"Vi a Igreja inteiramente abandonada por completo e só. Parecia que todos fugissem dela. Tudo é contenda em torno dela; pois de todos os lados vejo grandes misérias, ódio, traição e engano, inquietude, falta de auxílio e cegueira absoluta. De um lugar escuro vejo saírem mensageiros anunciando por toda parte más novas, que causam amargura nos corações dos que as ouvem, e acendem neles a cólera e o ódio.
   Eu rogo com muito fervor pelos oprimidos. Sobre os lugares onde alguns fazem oração vejo descer luzes, e sobre todos os demais, negras trevas. Este estado de coisas é horrível. Roguei a Deus que tenha misericórdia. ¡Oh cidade!... (Roma) ¡Oh cidade!... ¡Que grande calamidade te ameaça!... A tempestade está próxima; prepara-te, pois. Confio, no entanto, em que tens de permanecer firme."

10. Sobrevivência da Igreja e indignidade dos cristãos. (4 de outubro de 1822)

    "Quando esta noite vi a São Francisco levando sobre seus ombros a igreja, segundo a visão que teve o Papa (3), vi que um homem de baixa estatura em cujo rosto tinha um pouco de judeu, levava a costas a Igreja de São Pedro, o qual me pareceu muito perigoso. Na parte norte, sobre a Igreja, estava Maria protegendo-a sob seu manto. Dir-se-ia que aquele homem ia cair. Parecia-me que o conhecia. Aqueles doze a quem sempre vejo como novos apóstolos vinham socorrer-lhe, mas demasiado devagar.
    Já ia cair, quando por fim chegaram todos e se puseram embaixo dela; também ajudaram muitos anjos. Tratava-se de salvar só o solo e a parte posterior da igreja, pois tudo o demais o tinham destruído pelas seitas e ainda os mesmos eclesiásticos. Aqueles levavam à igreja a outro lugar e parecia que a seu passo vinham por terra muitos palácios como se fossem campos de lavoura. Vendo em ruína à Igreja de São Pedro e os muitos eclesiásticos que tinham trabalhado em destruí-la sem que nenhum quisesse dizer adiante dos demais o que tinha feito, senti tal tristeza que tive de clamar em alta voz pedindo a Jesus misericórdia.
  Então vi adiante de mim a meu Celestial esposo em figura de um mancebo, que falou longo tempo comigo. Disse-me que esta translação da Igreja significava que na aparência tinha de cair em terra por completo, mas que descansava nestas colunas e que delas tinha de surgir de novo; que ainda que não ficasse mais do que um só cristão católico no mundo, ela podia vencer, pois não está fundada na razão nem no conselho dos homens.
    Depois me mostrou que na Igreja nunca tinham faltado fiéis que fizessem oração e padecessem por ela. Mostrou-me ademais o que Ele tinha padecido pela Igreja, a virtude que tinha comunicado aos méritos e trabalhos dos mártires e que tudo o voltaria a padecer de novo se fora possível. Também me mostrou em inumeráveis cenas a miserável conduta dos cristãos e dos eclesiásticos, em círculos cada vez maiores, em todo mundo e em minha pátria, e me exortou a orar com perseverança e a padecer por eles.
    Havia uma grandeza e tristeza incompreensíveis nesta cena, que não posso descrever. Também se me deu a entender que, já quase não restavam mais cristãos verdadeiros, bem como entendi que muitos judeus que agora existem, são fariseus e ainda piores do que os fariseus do tempo de Jesus. Só o povo de Judit na África está composto de antigos verdadeiros judeus."
 
11. Visão da besta do mar e do Cordeiro de Deus. (Agosto a Outubro de 1820)

"Esta visão, segundo diz Brentano em suas anotações, está cheia de interrupções, porque Ana Catarina via as coisas em tal forma que lhe era muito difícil descrevê-las depois ordenadamente. Nota também que a visão tem muitas formas de semelhança com as revelações de São João, que ela não tinha lido antes.
    Vejo aos novos mártires, não de agora, senão de tempos futuros. Vejo sua aflição e vejo que se precipitam os fatos. Vi às sociedades secretas trabalhar e combater cada vez com maior intensidade para destruir à grande Igreja; e vi entre esta gente a um horrível animal, saído do mar
   O monstro tinha escamas como de peixe, juba como de um leão e muitas cabeças ao redor de uma maior do que as outras, arrepiada, formando uma coroa. Suas fauces eram grandes e vermelhas. Estava manchado como um tigre e andava confiadamente entre aqueles sectários destruidores. Muitas vezes estava no meio deles, enquanto trabalhavam, e também eles iam procurá-lo na caverna onde costumava esconder-se.
  Enquanto estas coisas sucediam, vi aqui e lá, no mundo inteiro, muitos bons e piedosos homens, especialmente eclesiásticos, atormentados, encarcerados e oprimidos, e tive o sentimento interior de que um dia teria novos mártires. Quando a Igreja estava em grande parte destruída, de tal modo que não ficava mais do que o coro e o altar maior vi a estes destruidores, juntamente com a besta, entrarem na Igreja.
    Ali encontraram a uma Senhora grande e magnífica, que parecia estar em fita, pois caminhava lentamente. Os inimigos ficaram muito admirados e espantados, e a besta não pôde dar um passo mais. Estendeu furiosamente o pescoço para a Senhora, como se quisesse engoli-la, mas ela se voltou e caiu prostrada sobre seu rosto.
    Vi então à besta fugir de novo para o mar e aos inimigos correr, confundidos e desconcertados, atropelando-se uns a outros: porque vi que, em torno da Igreja, vinham desde longe e se aproximavam grandes círculos, na terra e no céu. O primeiro círculo estava formado de jovens e de donzelas; o segundo, de pessoas casadas de todos os estados, entre eles reis e rainhas; o terceiro, de pessoas pertencentes às ordens religiosas; o quarto, de guerreiros, adiante dos quais vi a um ginete sobre um cavalo branco. O último círculo estava composto de lavradores e gente da comarca, muitos deles assinalados com uma cruz vermelha na testa. Enquanto se acercavam, os prisioneiros e oprimidos foram liberados e se juntaram com eles."